quarta-feira, setembro 17, 2003

GHOST DOG (Ghost Dog - The Way of the Samurai)



Nesses dias de greve nas escolas do município, onde dou aula à noite, estou aproveitando pra ver filmes na telinha e vez ou outra levar alguma coisa de interessante na locadora aqui do centro. Nesses tempos de vacas esqueléticas, a gente que curte cinema tem que procurar caminhos alternativos e baratos pra ver filmes. Cinema está cada vez mais sendo diversão de burguês. Por falar em liseira, hoje recebi um e-mail engraçadíssimo de um amigo dos tempos do coral do IBEU, o Nilberto. Falando sobre falta de grana e tal, ele disse:

Rapaz, esse mal é epidêmico e se alastra longitudional, horizontal, transversal, sagital, aboral e fudidalmente. ahahaha. Mas infelizmente não mata! Isso é que é pior. Temos que sofrer deste mal como quem come mulher feia. Com resignação. ahahah. Rapaz a preguiça é sintoma da liseira. Liso fica logo com preguiça. naum tem perigo de querer sair e gastar. Os homens chamam e ele apela pra preguiça para negar. É mais chique. É Lundum. É depressão. É naum. É Liseira! hahahah

O legal é que apesar dos pesares, o senso de humor do brasileiro continua afiadíssimo. Tá certo que o Nilberto é o cara mais sarcástico e ácido que eu já conheci, mas ainda tem muita gente rindo da desgraça por aí. Hehehe

Pois bem, vamos ao filme:

Ontem levei pra casa o vhs de GHOST DOG (1999), do cineasta cult Jim Jarmursh, que está nas locadoras há uns dois anos. Depois de ver o filme na lista de melhores dos anos 90 de várias pessoas (e mais recentemente no blog do Filipe), resolvi tirar o atraso e ver essa obra do Jarmursh. O ruim foi que os primeiros 15 minutos da fita são de dar dor nos olhos. Mas depois a fita se acalma e a gente consegue ver o filme com calma. Aliás, "calma" é uma das palavras-chave do filme. A trilha sonora de RZA, o andamento lento do filme e a expressão zen do matador vivido por Forrest Whitaker deixam a gente leve feito uma pluma. GHOST DOG é hipnótico pra caramba. E cresce na minha memória afetiva quando me lembro de determinadas cenas.

Adorei ver aqueles pássaros voando ao som da música meio trip hop do RZA(fiquei com vontade de ter a trilha sonora). Adorei ver aqueles trechos do livro que ensinam a filosofia do Samurai escritos na tela e narrados pelo Whitaker, assim como as citações a diversos livros, entre eles "Rashomon", o livro que deu origem ao filme clássico do Kurosawa. As citações também incluem diversos desenhos animados clássicos como Pica-Pau, Simpsons, Gato Félix e Betty Boop. Os três chefões mafiosos lembram bastante personagens dos filmes de David Lynch. O clima todo do filme, aliás, lembra Lynch. Talvez por isso eu tenha gostado tanto.

Há quem vá dizer que o filme não tem uma história consistente, mas eu não tô nem aí. Há coisas mais importantes no filme do que o enredo. Bom saber que Jarmursh continua tão bom quanto nos tempos de ESTRANHOS NO PARAÍSO (1983) e DAUNBAILÓ (1986). Na internet (IMDB e Amazon), há vários comentários legais de pessoas que adoraram o filme, que dizem entusiasmadas que o viram dezenas de vezes. E com razão.

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