domingo, novembro 13, 2022

PANTERA NEGRA – WAKANDA PARA SEMPRE (Black Panther – Wakanda Forever)



Ultimamente tenho me perguntado se meus textos estão sendo escritos a partir de meu prazer em ver a obra, relevando suas imperfeições em prol de minha experiência com elas, ou se ainda estou conseguindo ter um julgamento crítico em análises que combinam tanto a emoção quanto a razão. Afinal, eu me diverti a valer com THOR – AMOR E TROVÃO, um filme que foi destruído por boa parte da crítica, e achei o primeiro PANTERA NEGRA (2018) um bocado sem graça. Até fui reler meu texto do primeiro filme, para entender um pouco as circunstâncias e o momento em que o vi, mas não sei se isso ajudou muito.

Ainda sobre as circunstâncias em que vemos os filmes como adjuvantes no modo como gostamos mais ou menos deles, eu tive uma experiência bem dividida, por assim dizer, com PANTERA NEGRA – WAKANDA PARA SEMPRE (2022): antes e depois do café extraforte. Assisti a primeira hora do filme com sono, um pouco de desinteresse e um bocado incomodado com os óculos escuros 3D, que além de totalmente desnecessários, deixaram a fotografia, que já é naturalmente escura, um verdadeiro breu. Com isso, até os momentos que se passam durante o dia e em cenários externos são prejudicados. Fica aqui, desde já, minha reclamação para o uso abusivo do 3D puramente para fins lucrativos. Pois bem, depois do café, minha relação com o filme mudou bastante, tanto que não senti esse arrastar do tempo que muitos críticos têm mencionado – afinal, sua duração total é de 2h40min.

Uma coisa que achei interessante em WAKANDA PARA SEMPRE foi o quanto se trata mais de um filme-coral do que uma obra que tenha um(a) protagonista. Ou seja, a falta do Pantera Negra/Chadwick Boseman, se manifesta até mesmo nesse sentido. É como se o filme e, por conseguinte, todos os personagens, estivessem em um estado de desorientação, sem saber para onde ir. O rei está morto e o luto está sendo muito difícil, assim como as próprias ações a serem tomadas. Aliás, que lindo que é o prólogo, seguido dos créditos de abertura, com o logo da Marvel apresentando apenas Boseman como o Pantera Negra, e em total silêncio. A sala grande e lotada em que assisti ficou inteirinha calada, em respeito ao herói e ao ator.

Ou seja, o fato de Wakanda inteira representar o heroísmo e não apenas um só personagem contribui para que a imagem que temos da nação unida se torne cada vez mais evidente. Mesmo quando a personagem de Danai Gurira (ainda bastante lembrada como a Michone de THE WALKING DEAD) leva uma bronca pesada da rainha, após os incidentes nos Estados Unidos, quando da busca da Coração de Ferro, essa união persiste. Inclusive, uma coisa que ficou bem qualquer nota nessa relação de Wakanda com a inteligência americana foi a presença pouco substancial dos personagens de Martin Freeman e Julia Louis-Dreyfus, que funcionam mais para marcar presença em filmes e séries e se mostrarem importantes para títulos futuros do estúdio.

WAKANDA FOREVER pode não ser o melhor dos filmes desta nova fase da Marvel – que não anda empolgando muito, é verdade –, mas é certamente um dos mais importantes, pelas questões políticas e raciais que traz e pelas soluções que encontra para a morte do ator e de seu personagem. Com Boseman, este filme (como ficou) não existiria. O que temos aqui é uma aventura com toques de ficção científica e de espionagem com um ótimo elenco de atrizes, sendo as mais importantes Letitia Wright, Lupita Nyong'o (mais linda do que nunca!), Danai Gurira, Angela Bassett e Dominique Thorne. Ou seja, o filme é composto basicamente por heroínas, já que Namor (Tenoch Huerta) é o grande antagonista e um personagem muito importante a ser incluído no MCU.

Nos quadrinhos, essa richa entre Pantera Negra e Namor só se apresentou mais recentemente, nos anos 2010, quando Brian Michael Bendis estava no controle dos roteiros, mais especificamente na saga Vingadores vs X-Men. Nessa saga, Namor usa o oceano para inundar a nação, muito parecido com o que acontece no filme. Ou seja, a fase em que Bendis esteve sob o comando dos principais títulos da Marvel ainda tem servido de inspiração para muitos filmes do estúdio. Depois disso, houve uma segunda richa, na saga Infinito, capitaneada por outro grande roteirista, Jonathan Hickman, e com participação do Thanos. Namor é um anti-herói bastante temperamental conhecido por construir briga com o Quarteto Fantástico, já no comecinho dos anos 1960, no título da família mais querida da Casa das Ideias.

A adaptação de Namor para o cinema foi bastante feliz, ao integrar às suas origens e a seu visual símbolos das culturas asteca e maia. Funciona muito bem. Se os próprios quadrinhos trazem duas origens diferentes para o herói, o cinema pode criar uma nova origem para ele e para a Atlântida também. Só senti falta de uma sensação de alegria no império de Namor. Aquele universo submarino, por mais que tenha uma espécie de sol, parece bem pouco atraente. Talvez porque a Marvel tenha tentado se distanciar o máximo possível de AQUAMAN, o filme de James Wan.

De todo modo, na falta de vilões muito bons dentro do universo Marvel (os melhores são Thanos e Loki, sem dúvida), Namor se mostra vingativo e ardiloso o suficiente para já entrar na lista dos melhores. O momento em que ele se vinga da morte de uma atlante querida ao matar inclusive a rainha de Wakanda e ainda guardar mais vingança para depois é representativo disso. Mas há algo que o filme também traz de positivo, que é o tom mais venenoso com que Shuri, agora vestindo o manto de Pantera Negra, luta contra Namor em um embate mais violento do que eu esperava. Achei essa violência pouco comum para os filmes da Marvel/Disney, inclusive.

Ryan Coogler é um bom diretor de ação, principalmente se comparado a outros que passaram pela Marvel mais recentemente – basta lembrarmos do quanto filmes como SHANG-CHI E A LENDA DOS DEZ ANÉIS e VIÚVA NEGRA, que dependem muito da ação, deixaram a desejar nesse quesito. Além do mais, a produção de WAKANDA FOREVER é tão bem cuidada que fica bem explícito o alto valor gasto, especialmente para construir os dois mundos (Wakanda e o mundo de Namor).

+ DOIS FILMES

O DIA EM QUE A TERRA SE INCENDIOU (The Day the Earth Caught Fire)

Adoro um disaster movie que lida com uma espécie de apocalipse. E O DIA EM QUE A TERRA SE INCENDIOU (1961), de Val Guest, cumpre bem o papel, e ainda tem um primeiro ato com o sabor das comédias de jornalismo de Hollywood (lembrei bastante de JEJUM DE AMOR, de Howard Hawks). Depois, há a chegada de Janet Munro à história. E que mulher apaixonante! O grau de sensualidade que ela traz ajuda a botar fogo no filme antes mesmo da chegada dos instantes mais tensos causados pelas consequências do uso de bombas atômicas pelos Estados Unidos e pela União Soviética. O eixo da Terra se desloca e ela passa a se aproximar do Sol. Gosto das conversas entre os jornalistas, das cenas que parecem ter dado mais trabalho para os efeitos especiais, das soluções inventivas até para apresentar os jovens que supostamente estariam numa espécie de orgia do fim do mundo. Além do mais, o filme foi um dos primeiros a falar sobre aquecimento global. Visto no box Clássicos Sci-Fi - Vol. 10.

MEU NOME É GAL

Este curta-metragem do diretor de A RAINHA DIABA (1974) é uma junção de dois videoclipes tirados do álbum de 1969 de Gal Costa, "Saudosismo" e "Não Identificado", ambas de Caetano Veloso, e um registro ao vivo bem cru de um show da cantora, num estilo mais rock, cantando "Meu Nome É Gal", com uma energia bem interessante de ver, inspirada no rock do final dos anos 60, como Janis Joplin e Jimi Hendrix. Senti falta de mais coisas, mas vale demais o registro dessas três canções retratando também a beleza da cantora e até seu jeito mais reservado. Na equipe técnica de MEU NOME É GAL (1970), além de Antonio Carlos da Fontoura na direção, há ainda nomes de destaque, como Lauro Escorel, Antonio Calmon e David Neves.

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