Um crítico de um jornal estrangeiro disse sobre PANTERA NEGRA (2018): é um filme mais interessante para falar sobre do que para assistir. E, nesse sentido, tendo a concordar com ele. Mas não deveria ser assim. É claro que é o filme mais politizado da Marvel até então. E é talvez o mais feliz em fazer isso, ao questionar o papel de uma superpotência como Wakanda, o país (fictício) mais poderoso tecnologicamente e escondido no continente africano, que vive sob o lema: devemos ficar isolados e escondidos ou ajudar aqueles países que precisam de auxílio?
É uma cutucada e tanto nos Estados Unidos, que são um país que não ajuda: ao contrário: suga dos demais, assassina e ainda sai bem na fita, como heróis. E quem diz isso é um grupo de americanos. A ideia de Wakanda e do Pantera Negra surgiu de Stan Lee e Jack Kirby, lá nos anos 1960, quando os negros ainda eram um grupo que levava porrada da polícia a toda hora nas ruas e não podia se manifestar. Agora as coisas mudaram bastante para melhor, mas ainda há muito a melhorar, ainda há muitos casos de racismo, de neonazismo, de violência contra os negros.
Mas, por mais que filmes de super-heróis tenham adquirido um caráter político recentemente - no ano passado foi MULHER-MARAVILHA, de Patty Jenkins -, é preciso pensá-los como obras que empolguem, que nos coloquem nos sapatos de seus personagens, que façam com que nos importemos com eles, que temamos por suas vidas, com a suspensão da descrença funcionando também. É possível dizer isto de PANTERA NEGRA? Não creio. Talvez os filmes da Marvel tenham chegado em um momento em que causam muita preguiça por deixarem de ser novidade. Mas se a quantidade de espectadores estivesse diminuindo, talvez se pensasse em uma crise nesses filmes, mas isto não está acontecendo. Então, ainda veremos muitas produções de super-heróis pela frente.
Ao menos o novo filme é mais comedido, faz uma oposição a THOR - RAGNAROK, que pede risadas e gargalhadas do espectador o tempo todo. Este filme, dirigido pelo mesmo Ryan Coogler do ótimo CREED - NASCIDO PARA LUTAR (2015), entra mais em sintonia com os três filmes do Capitão América, mais sérios. Mas a impressão que fica é que há dinheiro demais envolvido. Será que dinheiro demais estraga? Afinal, foi com o orçamento milionário que conseguiram fazer de maneira tão bela Wakanda. Mas quem hoje em dia ainda se empolga com efeitos especiais? Eles apenas precisam estar lá e fazer o papel para justificar o investimento.
Comparando CREED com PANTERA NEGRA, é fácil imaginar um cineasta engessado pela estrutura e pelo estilo Marvel/Disney? Em que momento o interesse amoroso do Rei T'Challa (Chadwick Boseman) parece de fato envolvente? Em que momento ficamos de fato duvidando que o Pantera Negra voltaria para tomar o trono de volta após o confronto com o vilão Erik Killmonger (Michael B. Jordan)? Mais: as cenas de ação empolgam? Talvez as que se passam na Coreia, um pouco.
Quem pensa que filmes de super-heróis não devem se preocupar com esse tipo de coisa está errado. As melhores aventuras nos quadrinhos deixam os leitores às vezes sem fôlego. Os filmes também deveriam deixar. Nesse sentido, as produções imperfeitas da DC/Warner até tem parecido mais interessantes. Em agosto vem aí o mais ambicioso dos filmes da Marvel: VINGADORES: GUERRA INFINITA. É bom que os realizadores consigam dar conta de tantos personagens.
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