A carreira de Ridley Scott é uma das mais interessantes dentre os cineastas veteranos em atividade. São quase 30 filmes para cinema, equilibrando-se entre ficções científicas, dramas contemporâneos, fantasias e filmes de época. Muita coisa parece interessar a Scott, seja a lenda de Robin Hood, a história de Moisés atravessando o Mar Vermelho, Cristóvão Colombo, além de histórias de monstros espaciais. Em TODO O DINHEIRO DO MUNDO (2017), Scott olha para nosso mundo, para pessoas diferentes. Pessoas gananciosas, pessoas desesperadas, pessoas desesperançadas.
Como o cinema é uma excelente janela de aprendizagem, somos apresentados aqui ao então homem mais rico do mundo, o magnata John Paul Getty (Christopher Plummer), uma espécie de Tio Patinhas mais sombrio. Para ele, nada era mais importante do que o seu dinheiro. Tirar de seus trilhões de dólares 17 milhões para o resgate do seu neto sequestrado estava fora de cogitação, então.
E é essa basicamente a história. Enquanto a mãe do garoto, vivida por Michelle Williams, tenta desesperadamente conseguir até mesmo conversar com o velho avarento, ele chama um de seus empregados (Mark Wahlberg) para tentar descobrir o paradeiro do menino sem que, com isso, precise gastar muito dinheiro. O filme apresenta algumas situações bem absurdas sobre até que ponto vai a doença daquele velho de quase 90 anos.
Se o filme de Scott falha em não conseguir criar uma atmosfera de suspense dentro desse situação de estresse do sequestro do rapaz, do jeito que o filme se encaminha dá até impressão de que o cineasta queria aquele tom. De certa maneira, isso tem o seu lado positivo, já que não se transforma em um thriller banal sobre sequestro e busca, coisa que já se viu tantas vezes no cinema. Scott prefere enfatizar o conto moral sobre aquela situação absurda.
Por mais que possamos pensar que sua moral da história é simples até demais, não há problema nenhum em lembrar disso de vez em quando. Lembrar que não se leva dinheiro para a sepultura. O que parece incomodar um pouco na construção é sua estranheza no modo como costura sua trama sem personagens principais, e com uma Michelle Williams muito bem no papel da mãe desesperada, sem se descabelar ou transformar o filme em uma grande tragédia ou um grande melodrama. Até porque raramente Scott é apegado a sentimentalidades.
No mais, o tom da fotografia chama a atenção. Dá até dúvida se não é problema do projetor, de tão escura que é a imagem, em tom sépia, muito provavelmente para emular aquele ano, 1973. A escolha de Scott por esse tipo de imagem é bem curiosa, já que obras anteriores dele, como PERDIDO EM MARTE (2015) e ALIEN - COVENANT (2017), se destacavam por fotografias cristalinas, mesmo em cenas noturnas.
Uma pena que o filme seja mais lembrado pelo caso envolvendo o escândalo sexual de Kevin Spacey, que forçou Scott a substituí-lo por Plummer em um intervalo de tempo admiravelmente veloz. A tempo inclusive de participar da temporada de premiações. No caso do Oscar, apenas Christopher Plummer recebeu a única indicação, de ator coadjuvante. Não deixa de ser uma ironia.
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