Guillermo del Toro é desses cineastas do qual se pode esperar as mais diversas reações. Além de não ser uma unanimidade entre os gostos dos cinéfilos em geral, seus filmes oscilam mesmo entre aqueles que valorizam seu trabalho.
Porém, uma coisa que se percebe ao ver A FORMA DA ÁGUA (2017) é que o cineasta não tem uma sensibilidade muito apurada quando quer tratar de histórias de amor. Falta a esta história de amor entre uma zeladora muda de uma instituição militar dos anos 1960 e uma criatura capturada no Rio Amazonas uma sutileza que torne tanto o enredo quanto a caracterização dos personagens críveis e efetivamente comoventes.
Posso estar sendo um pouco cínico ao dizer isso, mas, para conquistar as mais diferentes plateias, del Toro atira para todos os lados: quer agradar as minorias (gays, mulheres negras, pessoas com deficiência), tratar de assédio sexual e mostrar uma mulher como empoderada e protagonista da ação. Além disso, quer mostrar seu amor pelo cinema com cenas que não parecem caber muito bem em seu estilo, por mais que o amor que ele sinta pela arte seja genuíno e verdadeiro. Para completar, del Toro ainda mostra que não faz concessões à indústria, trazendo cenas de nudez (frontal, inclusive) e um pouco de gore. Nada disto é pecado. De jeito nenhum. Mas a impressão que dá é que parece forçado e não espontâneo.
O filme conta a história de uma zeladora muda (Sally Hawkins) que trabalha em uma instituição secreta militar do governo americano da década de 1960. Como ela é responsável, junto com sua melhor amiga (Octavia Spencer), de limpar o local, ela descobre que uma criatura foi capturada e está presa, que essa criatura é capaz de se comunicar, e que essa mesma criatura está sofrendo violência física de um dos homens do governo, o personagem de Michael Shannon.
Aliás, por mais que o personagem de Shannon tenha as suas peculiaridades como vilão do filme, del Toro exagera um bocado na caracterização vilanesca dele, prejudicando um pouco o envolvimento do espectador na torcida pela busca da protagonista em retirar aquela criatura (por quem ela já estava apaixonada) daquele lugar. Ela lida com a missão com a ajuda do companheiro de quarto e grande amigo (Richard Jenkins).
Entre os pontos positivos do filme estão as cenas de amor entre o casal: Elisa, a mulher muda, e a criatura, vivida pelo mesmo Doug Jones que havia feito o Abe Sapien de HELLBOY (2004) e HELLBOY II - O EXÉRCITO DOURADO (2008), além de ter sido também o Fauno de O LABIRINTO DO FAUNO (2006). Podem até falar de del Toro, mas não dá para dizer que não existe uma coerência e uma marca autoral em sua obra. E não apenas por denominadores comuns e repetições como essa. Seu amor pelos monstros e pessoas marginalizadas e oprimidas já era visível. Em A FORMA DA ÁGUA isso apenas se tornou mais explícito.
Queria ter gostado mais do filme. Uma pena que não houve maior envolvimento emocional da minha parte e confesso que algumas vezes o filme me deu um pouco de sono. Em geral, as fantasias fazem isso comigo. Assim, fortalece em mim a impressão de que del Toro é um excelente diretor de arte. Isso já se notava em todos os seus trabalhos anteriores. E por causa desse aspecto um tanto mais calculista, falta maior capacidade de lidar e de passar as emoções que deseja trasmitir. Por isso prefiro seus filmes de horror sangrentos e com imagens lindas, como A COLINA ESCARLATE (2015), seu trabalho anterior.
A FORMA DA ÁGUA é o recordista de indicações ao Oscar do ano (13), concorrendo nas categorias de filme, direção, atriz (Sally Hawkins), ator coadjuvante (Richard Jenkins), atriz coadjuvante (Octavia Spencer), trilha sonora original, roteiro original, fotografia, figurino, edição de som, mixagem de som, montagem e direção de arte.
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