Uma das mais fascinantes entrevistas do livro Afinal, Quem Faz os Filmes, de Peter Bogdanovich, é justamente de um cineasta pouco lembrado, o pioneiro Allan Dwan. Isso se dá porque, pelo fato de ele ter participado da aurora do cinema em Hollywood, ele tinha muitas histórias incríveis para contar. E que histórias. Não vou citar exemplos aqui, pois o ideal é entrar em contato direto com essa entrevista e viajar no tempo.
Recentemente surgiu em um dos fóruns de compartilhamento que acompanho uma cópia muito boa de A LEI DA FRONTEIRA (1939), uma das primeiras histórias a tratar de duas lendas do Velho Oeste: o xerife Wyatt Earp, homem da lei respeitado e que impôs respeito, e seu amigo trágico Doc Halliday, um pistoleiro bastante temido. A amizade entre os dois é inusitada, e o filme de Dwan traz uma romantização bela à mitologia. Aliás, como é admirável o modo como os americanos foram construindo seus mitos dentro de relativamente pouco tempo de História.
Em A LEI DA FRONTEIRA, Earp é vivido por Randolph Scott, ator que construiu sua carreira como heróis de westerns. Já Doc Halliday é vivido por Cesar Romero, que ficaria famoso como o Coringa da série do Batman dos anos 1960.
Na trama, passada na mítica Tombstone, um proprietário de um bar tenta se livrar de seu concorrente contratando um pistoleiro para destruir o local. O que ninguém esperava era que um forasteiro chamado Wyatt Earp apareceria para botar ordem na casa e se tornar o xerife da cidade. A presença de Earp não é nada agradável para esses homens e logo seus inimigos tratam de se livrar dele. Em vão.
Página virada por ora, pois é o momento em que o filme salta um pouco no tempo até o retorno do famoso Doc Halliday à cidade. Alcoólatra e com tuberculose, o ex-médico recebe a visita da ex-noiva. Isso o maltrata e mostra-o frágil aos olhos de Earp, que trata de ajudá-lo. Assim o filme vai se enchendo de amor, e por isso é até mais fácil gostar da persona trágica de Halliday.
Talvez o que incomode um pouco em A LEI DA FRONTEIRA seja o modo muito rápido com que tudo acontece, inclusive mostrando a briga de Earp com os bandidos no OK Corral. Trata-se de um filme curto, dinâmico. Para o bem e para o mal. Como o espectador terá outros filmes sobre esses personagens analisando de diferentes perspectivas e poéticas, não há do que reclamar. Até porque o cinema que Dwan faz é admirável desde os primeiros fotogramas, que sintetizam os primeiros anos da construção de Tombstone com várias imagens sobrepostas. Um domínio admirável da gramática cinematográfica em um dos anos mais mágicos para o cinema americano. A vontade de ver mais filmes sobre esses personagens só aumenta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário