Um dos filmes mais sedutores da temporada, ME CHAME PELO SEU NOME (2017), de Luca Guadagnino, já começa mostrando que o caminho que traçará não será o da culpa católica. Os créditos iniciais, trazendo uma sucessão de imagens de estátuas gregas enfatizando a beleza dos corpos, dá indícios de que o que estaremos perto de ver seria algo de natureza pagã, melhor dizendo, pré-cristão, ou seja, longe da culpa.
E bastam as primeiras imagens para que sejamos arremessados para aquele maravilhoso oásis situado no norte da Itália, no início dos anos 1980. O tempo e o lugar são importantes para tirar um pouco o espectador contemporâneo de seus vícios eletrônicos e nos encantar com uma viagem sensorial tão intensa que é como se estivéssemos lá. Talvez esta seja, aliás, a melhor qualidade do filme de Guadagnino, embora mais motivos haveriam de surgir.
O filme é todo narrado do ponto de vista do jovem Elio (Timothée Chalamet, excelente), que está passando o verão com a família naquele lugar. O pai, um professor universitário, aguarda a chegada de um novo assistente, o americano Oliver (Armie Hammer). Desde a primeira vez que Elio vê Oliver já se instala ali um sentimento de atração, embora nem sempre as imagens sejam óbvias para captar. Nem mesmo o sentimento estava claro para o rapaz de 17 anos ainda.
O curioso da estadia de Oliver naquele lugar paradisíaco é que há bem poucos momentos em que o vemos trabalhando com o pai de Elio. Ele mais parece estar ali para passar férias e desfrutar dos prazeres de um café da manhã ao ar livre, de passeios de bicicleta e banhos de piscina ou de rio. Pequenos detalhes, como ele comendo um ovo cozido no café da manhã ou jogando vôlei, são importantes para que se instale o sentimento de prazer constante.
Em certo momento, Oliver pergunta a Elio o que ele faz naquela cidade. O garoto comenta das festas.O clima da festa também é outro exemplar de felicidade, ainda que não seja uma felicidade plena, já que os dois rapazes ainda estarão se divertindo com as moças locais. Ainda assim, como não sentir prazer na cena de sexo de Elio com a jovem Marzia (Esther Garrell)?
Mas a história de amor dos dois rapazes só estava começando. Não apenas uma história de amor, mas uma história de descoberta, não apenas do ainda adolescente Elio, mas também de Oliver, homem feito, que esconde suas inseguranças muito bem. E o filme trata de mostrar a abordagem lenta dos dois, ou melhor, do jovem Elio, de maneira sabiamente lenta, saboreando os primeiros beijos comedidamente, para, só então, chegar a um momento de intimidade completa - até uma memorável cena de masturbação do adolescente deixa de ser uma atividade secreta.
Talvez um dos momentos em que o filme perde um pouco a força seja na sequência de cenas da viagem, quando dá impressão de que a narrativa vai acabar mas ganha um bônus. Para os personagens, porém, aquela viagem representaria uma festa que não parece ter fim, como se eles estivessem o tempo todo negando que o retorno de Oliver para sua casa seria iminente. Tudo isso seria um preparatório para um final dos mais belos dos filmes românticos recentes.
ME CHAME PELO SEU NOME foi indicado ao Oscar nas categorias de filme, ator (Timothée Chalamet), roteiro adaptado (do grande James Ivory) e melhor canção original ("The Mystery of Love", de Surfjan Stevens).
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