segunda-feira, julho 06, 2015

WINTER SLEEP (Kış Uykusu)



Quem teve o privilégio de ver a obra-prima ERA UMA VEZ EM ANATÓLIA (2011), especialmente no cinema, certamente ficou bastante ansioso para conferir o novo trabalho do cineasta turco Nuri Bilge Ceilan, ainda mais levando em consideração que WINTER SLEEP (2014) ganhou a Palma de Ouro.

Mas talvez o prêmio máximo em Cannes tenha sido mais para mostrar o grau de merecimento com que suas obras já vinham sido tratadas no festival – antes disso, DISTANTE (2002) já havia ganhado o Grande Prêmio do Júri, CLIMAS (2006), o prêmio FIPRESCI, 3 MACACOS (2008), o prêmio de melhor direção, e ERA UMA VEZ EM ANATÓLIA, novamente o Grande Prêmio do Júri.

E o curioso disso tudo é que demorou para que o hype em torno do cineasta chegasse ao nosso circuito alternativo. Também não ajudou o fato de seus dois últimos trabalhos, justamente os mais elogiados, terem uma duração um tanto quanto longa. Trata-se de um tempo necessário para a maturação do enredo, mas que acaba tomando o espaço de dois filmes de menor duração na programação de uma sala.

Mas o importante é que tivemos a chance de ver WINTER SLEEP finalmente no cinema. Ainda que não tenha sido exatamente um sucesso de público e a narrativa lenta afaste alguns espectadores, é um dos mais belos e importantes filmes do ano. Muito provavelmente demorei a escrever a respeito por sentir dificuldade em externar o que senti, um misto de angústia pelos dramas dos três personagens principais juntamente com os longos planos contemplativos que nos convidam a se afastar um pouco da dor dos personagens e apreciar a beleza da obra. Ou da vida.

Na trama, Aydin (Haluk Bilginer) é um ator aposentado que cuida agora de um hotel e escreve crônicas para um jornal local. É algo que lhe dá prazer. Ajuda a compensar um pouco o distanciamento que ele sente de sua bela esposa jovem, Nihal (Melissa Sözen). Ela tem se mostrado uma mulher de pensamentos independentes e um tanto incomodada com sua atual situação. A terceira personagem de maior importância é a irmã de Aydin, Necla (Demet Akbag), uma mulher amarga que se instalou no hotel por causa do divórcio e de uma depressão.

Uma das cenas mais incômodas é justamente um longo diálogo entre Aydin e Necla. Ela faz questão de diminuir o ego do homem, mesmo em se tratando de coisas simples, como o seu prazer em escrever as tais crônicas. É uma cena com pouquíssimos movimentos de câmera e isso acaba contribuindo para sua excelência e o sentimento de inquietude que provoca.

Podemos destacar mais duas cenas impactantes, pelo menos: a da festa organizada por Nihal, em que Aydin não é convidado; e a visita de Nihal a uma casa pobre, de pessoas que devem ao marido o aluguel atrasado. Ambas são desconfortáveis: a primeira por sentirmos a dor de Aydin; a segunda por razões que é melhor não dizer aqui, mas que intoxica o nosso sangue com sua carga emocional. Essas três cenas e mais o belíssimo final são o bastante para pensarmos em WINTER SLEEP como um dos filmes mais belos exibidos em nosso circuito nos últimos anos.

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