quarta-feira, julho 15, 2015

HACKER (Blackhat)



Às vezes a gente reclama quando um filme de um grande diretor é rejeitado pelas distribuidoras locais, mas depois de ver HACKER (2015) chega a ser até compreensível que o mais novo trabalho de Michael Mann tenha tido a tela pequena como fim. Afinal, se até a crítica e os fãs do cineasta têm encarado HACKER como um dos seus menos inspirados filmes, o que dizer do público comum, que entraria por acaso na sala de cinema por causa de um cartaz com o Chris Hemsworth? Se é que o ator tem suficiente popularidade para isso.

Aquela máxima de Truffaut de que o pior filme de um cineasta-autor é melhor que o melhor filme de um não-autor acaba servindo mais para cinéfilos e críticos, que enxergam o filme problemático dentro do conjunto da obra. Assim, quem não tem qualquer intimidade com o trabalho de Michael Mann pode se sentir ainda mais incomodado com HACKER e sua narrativa confusa, arrastada e a falta de densidade nas emoções e nas motivações dos personagens.

Ainda assim, há ecos de MIAMI VICE (2006), uma de suas obras-primas, especialmente nas cenas noturnas, as que mais evidenciam o uso da câmera digital. Sem falar no fato de haver também uma personagem feminina oriental forte, vivida pela mesma Wei Tang do excelente DESEJO E PERIGO, de Ang Lee. Aliás, quem dera as cenas de amor entre ela e Hemsworth fossem um décimo daquilo que pudemos testemunhar na obra de Lee.

Mas o que podemos perceber também é que, entre o amor e os tiroteios, Mann prefere os tiroteios. Vide os cortes nos momentos em que a questão do casal é posta em discussão, como se o amor dos dois não fosse importante. Por isso, entre as cenas tipicamente confusas de um filme de espionagem, há poucas mas intensas cenas de ação e violência, como a que vitima o melhor amigo do protagonista, desde já um dos pontos altos de HACKER.

Para não dizer que não falei da história, HACKER é sobre um homem que está preso (Hemsworth) e que é convidado a fazer parte de uma missão com o FBI e o governo chinês, a fim de capturar um hacker que conseguiu elevar em mais de 100% o preço da soja, além de outros ataques a sistemas financeiros. O homem preso é solto sob a condição de ser livre se conseguir capturar o vilão.

Com locações nos Estados Unidos, na China, na Indonésia e na Malásia, os 70 milhões de dólares do orçamento parecem ter sido bem investidos, embora na tela pequena e com aquela câmera na mão o investimento não parece o de uma superprodução. Exceto, talvez, a cena que se passa em uma celebração anual chinesa, em que foram usados 3.000 extras. A cena é também outro ponto alto, mas poderia ser muito mais.

De todo modo, a figura do herói solitário contra um sistema, que permeia outros trabalhos de Mann, como PROFISSÃO: LADRÃO (1981), O ÚLTIMO DOS MOICANOS (1992), FOGO CONTRA FOGO (1995) e O INFORMANTE (1999), está presente e é um dos elementos mais fortes de HACKER, embora seja suavizado pelos personagens que protegem o protagonista, em especial por seu interesse amoroso. Isso passa uma impressão positiva, elevando o filme a um patamar aceitável, dentro do alto padrão de qualidade da obra do diretor.

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