quarta-feira, julho 08, 2015

DESONRADA (Dishonored)



Terceira parceria do cineasta Josef Von Sternberg com sua musa Marlene Dietrich, DESONRADA (1931) é, até o momento, o que eu menos gostei dos três que pude ver. Mas é um filme que melhora bastante em sua terceira parte, quando começa a ganhar contornos mais dramáticos. Não que as cenas cômicas sejam ruins, mas parecem só estranhas hoje – lembro especialmente de Dietrich humilhando um oficial do exército russo no quarto de uma taberna. Ele, completamente bêbado; ela, disfarçada de camareira.

DESONRADA ajuda a diversificar a galeria de personagens de Dietrich. Depois de ser uma dançarina de cabaré em O ANJO AZUL (1930) e uma cantora de festas para a Legião Estrangeira em MARROCOS (1930), ela agora sobe de escada para uma espiã do governo austríaco, durante a invasão russa ao país, no início do século XX. Se bem que, como o homem que a convida para ser espiã lhe avisa, ser espiã é a menos nobre das profissões.

Mais uma vez Dietrich apresenta uma personagem que trafega entre o sensual e o vulgar já a partir de sua primeira aparição. Ela está numa rua escura, próxima ao prédio onde mora, e levanta uma de suas meias que estava baixa, dando um nó para disfarçar o elástico quebrado. É neste lugar que ela conhece um homem do governo, que a convida para ser X-27, depois de ouvi-la dizer que não teme a morte nem a vida.

A sequência do engajamento é simples, mas, antes disso, ela prova o seu poder de sedução e capacidade de enganar. No episódio de uma festa à fantasia, ela tem a sua primeira missão: eliminar dois espiões russos. Ela prova ser bem-sucedida com um deles, mas o outro de alguma maneira a seduz.

O problema do filme é que Victor McLaglen, o ator que faz o tal espião russo que aos poucos conquista o coração da X-27 é bem pouco simpático. Tem cara de vilão da pior estirpe, com aquele sorriso cínico no rosto. Assim, torna-se pouco interessante a relação dos dois. Torci mais para que ela o pegasse do que por ele escapar.

Embora o filme tenha tintas feministas e Dietrich possa até ser vista como um símbolo do poder da mulher, neste terceiro filme a atriz interpreta novamente uma personagem que se sacrifica. Acontece em MARROCOS, e é muito bonito e comovente, pois é um sacrifício pelo amor e também uma explosão do ego. Desta vez, há um sacrifício também, e o suposto amor pela pátria é problematizado em contraste com o amor romântico, o que é um ponto positivo, e que acaba por render a melhor cena de todo o filme.

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