sexta-feira, maio 01, 2015

PERMANÊNCIA



Mais um belíssimo exemplar do cinema pernambucano pôde ser visto nesta noite de sexta-feira no Cinema do Dragão. PERMANÊNCIA (2014) é o primeiro longa-metragem de Leonardo Lacca, que já havia ensaiado este trabalho no curta DÉCIMO SEGUNDO (2007), também com Irandhir Santos e Rita Carelli. Inclusive no curta, os silêncios são mais incômodos, há uma tensão até maior em uma obra que foi feita inicialmente com a vontade de ser um longa, mas que funciona bem naquele modelo também.

Lacca, como bom preparador de elenco que também é, afirmou em debate após a sessão que teve cerca de um mês para ensaiar com os atores as cenas. E nota-se que isso contribuiu bastante para o resultado. Os diálogos são pontuados por espaços de silêncios, mas eles são importantes, especialmente ao mostrar uma insegurança por parte dos personagens diante de situações desconfortáveis.

No caso, a situação incômoda se estabelece quando Ivo, personagem de Irandhir, se hospeda no apartamento de Rita (Carelli), sua ex-namorada, mas que agora está casada. O sentimento entre os dois, porém, continua latente e prestes a explodir. Uma vez que se vê DÉCIMO SEGUNDO, fica-se até um pouco surpreso ao ver o quanto essa explosão pode se apresentar repentina, embora a sensação de paralisia, no sentido joyciano do termo, se aplique ao longo de boa parte do filme.

PERMANÊNCIA também lida com questões que permeiam o título, ao trazer Ivo como sendo um fotógrafo que veio de Recife para São Paulo para a sua primeira exibição pública de um trabalho individual em uma galeria. A permanência, no caso, também poderia se relacionar à própria característica da arte fotográfica, embora também se estenda para outros aspectos no filme.

Interessante como o filme parece uma obra viva, que ganha vida própria à medida que outros elementos são acrescentados, como a figura do pai de Ivo, que é apresentado inicialmente em uma agradável cena de passeio noturno, e principalmente da aventura amorosa e/ou sexual, durante a passagem de Ivo pela cidade. Essa nova garota, por exemplo, acaba ajudando a tirar o foco do protagonista na amiga casada. Nem que seja por alguns instantes.

A presença de Ivo lá naquele apartamento pode ser também para enfrentar velhos temores (o filme já começa com o seu medo de elevador), ou antigas paixões que teimam em permanecer. Se bem que o filme deixa espaço para interpretações que podem fazer pensar sobre as motivações de Ivo, especialmente nos instantes finais.

Aliás, há no filme todo um certo ar de mistério, que talvez seja o segredo de sua força. Claro que há todo um trabalho de dramaturgia e de posicionamento e elegância dos planos que contribuem para sua beleza. Mas o filme de alguma maneira transcende a mera história sobre amores passados e isso se deve ao ser caráter discretamente misterioso. E isso pra mim é marca de grande cinema.

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