quinta-feira, outubro 11, 2012

55 DIAS EM PEQUIM (55 Days at Peking)



Infelizmente o último filme comercial de Nicholas Ray, 55 DIAS EM PEQUIM (1963), não é apenas chato pra cacete, mas também foi o principal responsável por sua saída de cena. Nem mesmo até o final das filmagens ele permaneceu, sendo substituído por outros dois diretores, por causa de um enfarte. Vai ver foi o acumulado de tanto estresse que ele teve em tantas produções complicadas, tantas brigas com produtores.

Depois de 55 DIAS EM PEQUIM, ele até tentou fazer outros filmes menores, que era sua intenção, mas por um motivo ou outro, esses projetos não deram certo. Exceto um, o experimental WE CAN’T GO HOME AGAIN (1976), que será lançado numa versão restaurada em novembro próximo, nos Estados Unidos. Logo, é possível que eu ainda o veja em breve. Há também UM FILME PARA NICK (1981), de Wim Wenders, cuja codireção é atribuída a Ray. Esse eu já tenho cópia.

Mas falemos um pouco desta despedida de Ray do cinema comercial. Trata-se da segunda parceria com o produtor Samuel Bronston, com quem Ray havia trabalhado em REI DOS REIS (1961). Logo de início, já se percebe o enorme investimento na produção, com cenários que recriam a China da virada do século XIX para o XX e com uma enorme quantidade de extras, tanto de chineses como de estrangeiros.

No filme, uma tomada virtuosa mostra os doze países estrangeiros acampados em território chinês, todos tocando com orquestra sinfônica seus respectivos hinos e com suas bandeiras fincadas e tremulando ao vento. Não deixa de ser um início bastante inteligente e prático de apresentar a situação, embora relações políticas nem sempre sejam simples de entender, pois envolvem também conhecimento da parte do espectador a respeito da história do país ou povo em questão. Mas o filme procura não complicar nesse sentido. Afinal, Bronston queria entretenimento para as massas, por mais que algumas de suas produções épicas tratassem de assuntos mais complexos.

Na trama, a imperatriz chinesa vive dentro da Cidade Proibida, sendo assistida por dois homens: um que acredita que a solução para os problemas da China está principalmente em retirar todos os estrangeiros do território, assim como já têm feito um grupo de rebeldes chamados Boxers; e o outro, que acredita que a situação pode ser resolvida de maneira pacífica. Um pouco como Jesus e Barrabás em REI DOS REIS.

Quando a Rainha dá um ultimato para que todos os embaixadores e seus homens saiam do território chinês, o que eles não esperavam era que o embaixador britânico vivido por David Niven resolvesse assumir uma postura agressiva e continuar no território. Para isso, ele usa de seus dons persuasivos para fazer com que todos os outros líderes das outras nações também fiquem. E começa uma guerra que derramaria sangue de ambos os lados.

O curioso do filme é que ele mostra o ponto de vista dos invasores. E, querendo ou não, por mais que se diga que ele não pinte os chineses como vilões, o modo estranho e caricato deles não é muito atraente. Tanto que eu estranhei o final do filme, já que Ray sempre esteve do lado dos oprimidos. Em 55 DIAS EM PEQUIM,  os personagens não têm carisma, os diálogos são fracos, algumas vezes as atuações chegam a ser até constrangedoras, como a de Ava Gardner, que interpreta uma baronesa russa. Ela seria a maior heroína rayniana do filme, por seu caráter mais marginal. O personagem de Charlton Heston também não ganha a nossa simpatia. Tudo, aliás, parece ter sido feito com boas intenções, mas, no fim das contas, não deu certo.

O escritor de The Films of Nicholas Ray, Geoff Andrew, é defensor ardoroso do filme, apesar de suas falhas, mas eu simplesmente não consigo ser. Considero o pior trabalho de Ray. Mais até do que A VIDA ÍNTIMA DE UMA MULHER (1949), o segundo longa-metragem do diretor, e considerado por muitos como seu ponto mais baixo. Até pretendia fazer um top 10 de Ray agora, mas talvez seja melhor esperar por WE CAN’T GO HOME AGAIN. Vai que é um filme que fica entre os seus melhores.

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