sexta-feira, outubro 26, 2012

PARAÍBA MEU AMOR



Antes de mais nada, é sempre bom esclarecer uma coisa: eu não gosto de forró. Aliás, até gosto, embora não me identifique. Mas com o forró tradicional, aquele que aqui chamam de "forró pé-de-serra" e que ainda tem uma ligação com a vida no campo e especialmente com a música do genial Luiz Gonzaga. Não com esse lixo que é despejado nas festas todos os dias e que saem nos carros, perturbando os vizinhos. Esse lixo que toma descaradamente canções estrangeiras de vários artistas e fazem suas versões horrendas.

E tempos atrás eu namorei uma moça que gostava muito de forró. A gente fazia um acordo tranquilo: ela ia para os forrós; eu ia para as festas de rock com os meus amigos. Não era um acordo muito justo, mas fazer o quê? Com o esfrega-esfrega dos corpos de quem dança forró, era muito mais fácil eu receber chifre na história. Aliás, é uma das grandes vantagens do forró em relação a outras festas: essa possibilidade de você abordar mais facilmente uma mulher. Mas fazer o quê se eu não aguento ficar dez minutos numa festa dessas?

Quanto a PARAÍBA MEU AMOR (2008), o filme que abriu a Mostra Bernard Robert-Charrue, é uma obra que eu vejo até com certo distanciamento. E com estranheza, por incrível que pareça, pois não vejo Chico César como cantor de forró nem como autoridade no assunto. Ter colocado ele como "personagem" de destaque do documentário não foi das melhores ideias. Ele, inclusive, comete alguns deslizes ao falar sobre o significado da letra de "Paraíba", de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Mas ele é um artista eloquente e até chega a convencer.

Se o filme peca pela presença excessiva de Chico César, ele acerta ao mostrar os duetos entre Dominguinhos e o músico francês Richard Galliano, que afirmou ser aquele momento ao lado de seu ídolo Dominguinhos o melhor dia de sua vida. A fotografia do filme é bem cuidada e as locações para as apresentações musicais quando em interiores acontecem sempre dentro de casas de taipa. Pode soar meio estereotipado, mas acaba ficando plasticamente interessante.

O pouco histórico que há sobre o forró, trazendo de volta o mito do "for all" e à importância de Luiz Gonzaga para a disseminação do gênero no Brasil a partir da década de 1940 não é o bastante, mas ajuda. Até mesmo a busca de outros músicos paraibanos seria interessante para enriquecer o trabalho, mas se ele assim o fizesse correria o risco de não dar conta de tanta coisa. Assim, os melhores momentos são os que mostram Pinto do Acordeon e Aleijadinho de Pombal, além do próprio Dominguinhos, já velho conhecido. Uma pena ter mostrado pouco do grupo "Os três do Nordeste". No fim das contas, não deixa de ser curioso ver o olhar de um estrangeiro diante de algo tão próximo da gente.

Ah, e hoje, coincidentente, estreia GONZAGA – DE PAI PRA FILHO. O documentário de Robert-Charrue acabou servindo como um aquecimento para a cinebiografia do Rei do Baião.

P.S.: Pesquisando sobre o filme, encontrei essa interessante análise que não se limita ao filme, mas à própria história do forró. Texto muito gostoso e feito por quem, pelo visto, entende do riscado. AQUI.

P.P.S. Confira a programação da Mostra Bernard Robert-Charrue AQUI.

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