quinta-feira, outubro 04, 2012

MULHER, MULHER



Fiquei um tanto decepcionado com este MULHER, MULHER (1979), estrelado por Helena Ramos. Afinal, depois de ter visto pérolas da nossa cinematografia, como AMADAS E VIOLENTADAS (1975) e A MULHER QUE INVENTOU O AMOR (1979), além de outro trabalho muito bom, que é POSSUÍDAS PELO PECADO (1976), já fiquei bem animado com o cinema de Jean Garrett. E quando o filme começa e vi que a direção de fotografia é de Carlos Reichenbach, aí é que minhas expectativas com relação ao filme se elevaram.

Infelizmente, MULHER, MULHER é bem frouxo, com um roteiro fraco de Ody Fraga, que não ajuda. O que tem de interessante no filme é a ousadia no quesito sexual, com cenas de masturbação da personagem de Helena Ramos mostrada de maneira quase ginecológica. Além do mais, há a tal cena dela com o cavalo, que parecia ser o grande amor de sua vida, já que ela já começa o filme como uma recém-viúva.

Aliás, lembrei de um recurso muito bom que Garrett usa para mostrar o passado. Em vez do corte e do flashback, a ação se passa enquanto a personagem de Helena Ramos está em cena. Trata-se de um recurso que parece ter sido muito utilizado no teatro, mas que no cinema causa estranheza, por ser pouco usual. O uso do travelling para os lados para mostrar sequências do passado também são destaque. Mas o que eu achei mais bonito mesmo talvez tenha sido contribuição do Carlão, que são as tomadas emolduradas pelas portas e janelas, vistas de fora, como pelo olhar de um voyeur.

Nota-se que as ideias formais até que fazem de MULHER, MULHER um trabalho que consegue unir bem o vulgar com o sofisticado. Que, aliás, era uma das grandes qualidades dos melhores cineastas da Boca do Lixo, naquela época. A trama fraca é que incomoda. Na história, Helena Ramos é uma jovem viúva que começa a ouvir as fitas que seu falecido marido, um psicanalista, gravava de suas pacientes. Uma dessas pacientes tinha instintos suicidas e isso acaba afetando a protagonista a ponto de ela ir perdendo sua sanidade. Os outros personagens que entram na história só ajudam a tornar tudo ainda mais constrangedor.

MULHER, MULHER pode ser visto como uma obra que anteciparia MULHER OBJETO, de Silvio de Abreu, que também lida – de maneira muito melhor – com a psicanálise. Sem falar que Helena está muito mais bonita e sensual no filme de Silvio de Abreu. E eu prefiro a Helena morena à Helena loira. 

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