domingo, outubro 07, 2012

TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA



Estava entusiasmado com a possibilidade de rever no cinema TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA (1973), de Arnaldo Jabor. Tinha o filme em alta conta em minha memória afetiva. Inclusive aquele final rasgadamente surpreendente. Mas vendo na cópia restaurada no Festival de Gramado achei-o um pouco fraco. Ainda assim, apesar de certo desapontamento, não dá para negar as qualidades da obra e do quanto ela foi ousada ao tentar ofender o status quo da sociedade brasileira de então.

Quem acaba roubando a cena no filme é Paulo César Peréio, que faz o irmão de Herculano, o personagem de Paulo Porto. Esse ator dá um ótimo perdedor e corno. Ficou perfeito para o papel, embora o filme deva quase tudo ao desempenho de Darlene Glória. Ela é a personagem mais rica, por se equilibrar numa corda-bamba. Ela é às vezes muito doce; às vezes muito agressiva. Como prostituta, ela via Herculano como uma saída daquela vida, mas havia ali sentimento por ele. E isso é que é interessante. E depois entra o filho do Herculano na história, que trata de embolar ainda mais o enredo.

A minha cena preferida é aquela em que Herculano liga para o bordel e ela atende. O irmão vivido por Peréio fica do lado dela, para ela não entregar os pontos de uma vez, dar uma de durona. Está tocando uma canção do Roberto Carlos ao fundo, "Detalhes". E isso faz uma diferença enorme para a dimensão sentimental da cena. Aliás, eu adoro quando toca Roberto nos filmes, mesmo filmes da Boca do Lixo ou do Cinema Marginal. Lembro com carinho, por exemplo, de "Ninguém vai tirar você de mim" tocando em uma cena crucial de MATOU A FAMÍLIA E FOI AO CINEMA, de Julio Bressane.

Mas depois o filme do Jabor fica histérico demais, chegando a me incomodar. Não sei se é porque eu estava um pouco indisposto, mas eu tinha acabado de ver o curta O DUPLO, da Juliana Rojas, e tinha adorado. Talvez a mudança de registro tenha prejudicado. Ou talvez o filme tenha envelhecido mal mesmo. Ainda assim, foi válida a exibição, já que o filme foi o primeiro a ganhar o Kikito de Ouro da História do Festival de Gramado.

(E eu terminei o texto e não citei sequer o nome de Nelson Rodrigues. Pode isso?)

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