terça-feira, julho 20, 2010
FACA NA ÁGUA / A FACA NA ÁGUA (Nóz w Wodzie)
Já nem sei como anda a situação de Roman Polanski. De vez em quando aparece notícia nova, desde sua prisão em setembro do ano passado, por ter mantido relações sexuais com uma menina de 13 anos nos Estados Unidos em 1977 e de ter feito a tradicional saída pela direita, como o Leão da Montanha, procurando abrigo na França. Neste mês ele foi libertado da prisão domiciliar, mas do jeito que as coisas mudam, nada garante que ele seja ou esteja novamente preso. Independente do ocorrido, o diretor passou a ser visto com bons olhos novamente, pelo menos por seu ofício, com o elogiado O ESCRITOR FANTASMA (2010). Mas voltemos uns bons anos no passado, quando FACA NA ÁGUA (1962) marcou a estreia na direção em longas-metragens de Polanski e lhe garantiu passaporte para torná-lo uma espécie de cidadão do mundo. Além de ter sido indicado ao Oscar de filme estrangeiro, o filme ainda faturaria prêmios no Festival de Veneza e daria ao diretor capa da revista Time. FACA NA ÁGUA é considerado por muitos como uma das melhores estreias de um cineasta até hoje, junto com CIDADÃO KANE, de Orson Welles, e ACOSSADO, de Jean-Luc Godard, o que eu acho um pouco de exagero.
Trata-se de um thriller bem econômico, mas que já demonstra a habilidade do diretor na construção de climas de tensão, que atingiria o máximo com a obra-prima O BEBÊ DE ROSEMARY (1968). O fato de o filme se passar quase que inteiramente dentro de um barco já revela uma capacidade de driblar dificuldades que poucos cineastas enfrentariam. Na trama, um casal oferece carona a um rapaz. Os dois pretendem velejar, mas apesar da antipatia que o marido nutre pelo rapaz, ele o convida para ficar com eles no barco. Até para ajudar em algumas tarefas. O homem rico faz questão de mostrar a sua superioridade e tenta de vez em quando irritar o jovem, principalmente quando nota a troca de olhares entre ele e sua esposa. A jovem mulher tem algo de enigmático e olha sempre com um ar meio que de reprovação, meio que de familiaridade com o jeito rude e arrogante de o marido tratar o sujeito.
A proximidade da câmera e o fato de a ação se passar no barco (eu não chamaria de iate aquele barco pequeno) faz lembrar tanto LIMITE, de Mario Peixoto, quanto UM BARCO E NOVE DESTINOS, de Alfred Hitchcock. Há pouco espaço para movimentação de câmera e devem ter sido necessários alguns malabarismos para que o resultado final fosse satisfatório. O filme de Polanski ainda conta com uma boa trilha sonora jazzy que ajuda a situar e a mostrar o espírito da época. Tudo isso e mais uma série de momentos memoráveis torna-o uma bela estreia. É fato que eu esperava mais de FACA NA ÁGUA, mas dá para encará-lo como um filme-irmão de ARMADILHA DO DESTINO (1966), pelo menos no que se refere ao clima. Nem sei explicar direito a comparação. Talvez porque as sensações que os dois filmes me provocaram tenham sido semelhantes.
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