quarta-feira, julho 07, 2010

TUDO PODE DAR CERTO (Whatever Works)



Quando esteve em Cannes para promover seu mais novo filme - YOU WILL MEET A TALL DARK STRANGER (2010) - Woody Allen, 74, fez piadas sobre a velhice. Foi muito engraçado ver e ouvir o cineasta dizendo que os benefícios que a velhice traz, como a sabedoria, a maturidade etc., não compensam as dores no corpo, as indigestões, a visão pior, entre outros sintomas da passagem do tempo. Ele falou que envelhecer é um mau negócio e não aconselha isso a ninguém. Fala ainda que tem evitado atuar em seus próprios filmes porque não tem mais idade para bancar o sujeito que conquista as garotas. "Imagine minha frustração ao trabalhar com Scarlett Johansson, Naomi Watts, e ver outros caras conseguirem a garota", Allen diz. Eu mesmo, lembro de ter achado bem ousada a cena do beijo de Allen com Juliette Lewis em MARIDOS E ESPOSAS (1992). E já são dezoito anos de lá pra cá!

O tema do sujeito mais velho que tem um relacionamento com uma garota jovem está de volta em TUDO PODE DAR CERTO (2009), que é quase um misto de um episódio de CURB YOUR ENTHUSIASM com as tradicionais obras de Allen. Larry David é uma versão agressiva e ainda mais corrosiva do diretor. Agora não basta ser neurótico e hipocondríaco: tem que ter paranoia e um pouco de TOC também. O velho personagem de David, além de ter uma visão totalmente pessimista do mundo e das pessoas, ainda tem algumas manias bem estranhas - e engraçadas. Como ter que cantar "Happy birthday to you" sempre que lava as mãos. Segundo ele, para espantar os germes.

E quer figura mais adorável e bela do que Evan Rachel Wood? Se Woody Allen não pode ficar na frente das câmeras, lá está o seu alter-ego, embora cenas íntimas entre os dois sejam totalmente evitadas pelo cineasta. Que quando quer, consegue fazer suas musas transpirarem sex appeal - como Charlize Theron, em CELEBRIDADES (1998) ou Scarlett Johansson em MATCH POINT (2005) -, mas em geral ele até parece um pouco pudico. A personagem de Evan Rachel Wood, por exemplo, tem uma inocência graciosa ao ficar encantada com aquele velho doido e ranzinza. Ele mesmo inicialmente não quer a relação. Acredita que as diferenças geracionais poriam tudo a perder, que ela devia procurar alguém de sua idade.

TUDO PODE DAR CERTO, ainda que se aproxime mais do Allen tradicional - bem diferente das mudanças estilísticas mais radicais e (geográficas) que ele fez entre MATCH POINT e VICKY CRISTINA BARCELONA (2008) -, ainda assim é diferente. Há algo de mais teatral nas performances, os cenários são econômicos, como se a intenção fosse mesmo fazer um filme menor. Em TUDO PODE DAR CERTO, a ênfase nos diálogos dos personagens - deixando tudo mais falastrão do que já era antes de ele fazer filmes na Europa - pode incomodar plateias jovens. Ou não. Já que há também divertidas reviravoltas na trama, como quando surgem em cena os personagens de Patricia Clarkson e Ed Begley Jr.

O fato de o protagonista conversar diretamente com a plateia também é bem interessante, não apenas pela aproximação e pela referência a uma cena clássica de NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA (1977), mas para demonstrar uma espécie de superioridade intelectual do protagonista, que pode ver além do seu mundo. No mais, quem não se incomodar com a total falta de naturalidade de Larry David como ator, vai curtir o filme e ainda sairá da sessão quase tão feliz quanto depois de TODOS DIZEM EU TE AMO (1996). Bom, talvez eu esteja exagerando um pouco na comparação, mas se um pessimista arrogante e irritante pode se mostrar um quase otimista no fim, nem tudo está perdido, não é?

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