quinta-feira, maio 11, 2006
PARADISE NOW
"E depois, o que acontece?"
"Depois descerão dois anjos e os levarão para o paraíso."
É mais ou menos esse o diálogo entre um dos homens-bomba e o responsável pela seleção de candidatos para as missões suicidas, um sujeito parecido com o Mojica, não sei se vocês repararam. Desde a primeira vez que ouvi falar em PARADISE NOW (2005) que fiquei bastante interessado em assistí-lo. Afinal, o assunto não deixa de despertar nossa curiosidade. No caso, uma curiosidade mórbida. Acho que, hoje em dia, eu até encaro com mais naturalidade o fato de uma pessoa doar sua própria vida em prol de algo que ela julga ser maior. Mas antes, sempre que lia uma notícia sobre um atentado terrorista nos jornais, eu ficava horrorizado e imaginando o que devia passar pela cabeça da pessoa que faz um negócio desses. PARADISE NOW é tentador, pois nos oferece uma visão de dentro. E procura nos aproximar de anônimos que têm a coragem de se matar em nome de um ideal.
O filme de Hany Abu-Assad pode até decepcionar um pouco do meio pro final, mas em nenhum momento ele aborrece. Ao contrário, a trama é bem interessante. No filme, dois amigos de infância são recrutados para uma missão suicida em Tel Aviv. O objetivo é matar o maior número de judeus possível. Na noite anterior à tal missão, um dos rapazes vai visitar uma moça por quem ele tem uma certa atração. E os dois têm bons momentos juntos. Esses bons momentos com ela talvez mexam com a cabeça do sujeito, fazendo com que ele se torne ainda mais apegado às coisas do mundo. Outros momentos bem interessantes são aqueles que mostram os dois gravando vídeos de despedidas ou comendo suas últimas refeições. Vemos em seguida que os tais vídeos dos mártires são vendidos em locadoras como filmes de entretenimento.
PARADISE NOW não tem o mesmo valor de uma obra como INTERVENÇÃO DIVINA (2002), de Elia Suleiman, mas ainda assim merece ser conferido pelo ineditismo da coisa. Interessante que, como o lançamento desse filme aconteceu junto com MUNIQUE, de Steven Spielberg, a comparação entre os dois filmes foi inevitável. E Abu-Assad acabou perdendo feio para Spielberg, que ofereceu uma obra mais complexa e elaborada. Mas a comparação é injusta, já que Spielberg é um cineasta gigante, experiente e com um arsenal de produção que poucos têm a chance de ter. Assim é covardia.
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