1. Como surgiu a idéia do curta?
A idéia de fazer um filme de telepatas surgiu de uma edição da HQ dos Fabulosos X-Men chamada "Psy-war". Tratava do primeiro confronto entre o Professor X e o Rei das Sombras, era desenhada pelo John Byrne e roteirizada pelo Chris Claremont. Eu sempre adorei essa história, pois ela era simples, direta, revelava muito sobre os personagens e o Byrne, com a arte-final do Terry Austin, conseguia criar um cineticismo genial a partir da idéia de dois caras sentados um na frente do outro duelando mentalmente.
A imagem desse embate das hqs se combinou com a minha idolatração por A FÚRIA, do Brian De Palma, e SCANNERS, do David Cronenberg, e daí me deu na telha de fazer um filme de telepatas. A intenção de fazer o curta ficou na minha cabeça, mas não tinha idéia de como escrever em forma de roteiro, pois vinha como imagem, sempre. Aí, era impossível conseguir dinheiro para produzir.
Daí, um tempo depois, o que aconteceu é que me envolvi no curta REVELAÇÃO, dirigido pelo Nicolás Monastério, e esse curta teve diversos problemas de produção e cronograma, devido a falta de recursos e problemas de calendário de atores e equipe. Mesmo com toda dificuldade fizemos o curta, que era bem ambicioso, com várias locações e diversos atores. No entanto, senti que apesar de legal não era exatamente o que eu curtia cinematograficamente. Então, na segunda-feira, após um fim-de-semana em que fiquei vendo e revendo o John Cassavetes explodir, resgatei essa idéia de telepatia, storyboardiei, liguei para os Jovens Turcos, o Nicolás e o Cassiano Griesang, e disse que no domingo seguinte iríamos gravar um curta chamado O COMBATE. O pessoal topou, o João Pedro e o Isidoro decidiram no par ou ímpar quem ia morrer e, por míseros R$ 40,00, fizemos esse curta-metragem.
2. A que se deve o nome da produtora - Jovens Turcos?
Não é exatamente uma produtora, mas uma idéia. Os Jovens Turcos foi o batismo que recebemos do atual Presidente do Clube de Cinema de Porto Alegre, o Paulo Daisson Casa Nova, pois, na época éramos um sopro de renovação no Clube, cuja a presença de pessoas mais maduras era predominante. Mesmo não sendo uma produtora "oficial", os Turcos estão sempre metidos com cinema, seja discutindo, trabalhando em Mostras e Festivais apoiados ou realizados pelo Clube de Cinema, assim como em seus projetos cinematográficos particulares. São filmes de ação, filmes de horror, filmes policiais e de ficção científica, predominantemente.
3. Sua intenção com O COMBATE foi homenagear SCANNERS e A FÚRIA? Que outros filmes são homenageados?
Tem homenagens a Sergio Leone, pois toda a decupagem é pensada como no trielo de TRÊS HOMENS EM CONFLITO, guardadas as devidas proporções claro. Tem uma citação a OS PÁSSAROS, assim como a O ENIGMAN DO OUTRO MUNDO. Outra, que surgiu por via do editor, o Marcelo Antonio Allgayer, que sugeriu inverter a ordem dos créditos, o que gerou como resposta "ótimo, é uma citação ao A MORTE NUM BEIJO". E, é claro, tem o Isidoro que é praticamente uma citação viva ao Lucio Fulci, com aquele ar de Thomas Millian em OS QUATRO DO APOCALIPSE, e o JP pode ser considerado uma citação ao Verhoeven, já que a atuação é puro Arnold em O VINGADOR DO FUTURO.
4. Falando em Cronenberg e De Palma, quais são suas outras influências?
Os meus cinco diretores favoritos, no momento, são o sempre eterno Leone, o De Palma, William Friedkin, Paul Verhoeven e, após ver IMPRINT, o Takashi Miike, que ao lado do Friedkin vem se tornando a maior influência em como eu vejo o ato de fazer cinema, com as condições que temos por aqui, no Brasil, principalmente no que se refere a cinema de gênero. Kinji Fusakaku, John Carpenter, Werner Herzog, Ivan Cardoso, Guilherme de Almeida Prado, Lucio Fulci, Dario Argento, Mario Bava, John Milius, Walter Hill, Steven Spielberg, entre outros, estão sempre na minha cabeça, também, quando resolvo fazer alguma coisa, mas o mais engraçado: acontece que o Takashi Miike anda tendo uma influência tão forte, mas tão forte que quando fizemos outro curta, ainda não finalizado, chamado O BEIJO PERFEITO, comecei, no papel, tentando fazer Argento, foi pré-produzido meio que Pupi Avati, porque estava sob a influência de THE HOUSE WITH LAUGHING WINDOWS, mas acabou virando uma mistura de giallo com A ENTREVISTA, que ainda estou curioso em saber o resultado, pois só consegui revelar agora a lata em que foi filmado. O curioso é que esse novo curta é ainda mais curto que O COMBATE. É uma cena de menos de um minuto.
5. Quais são suas ambições como diretor ou produtor de cinema ou vídeo?
Quero realizar filmes de horror, fc e ação. Em longa-metragem, para as pessoas verem. Atualmente, estou indo mais para o lado do horror. Tentei escrever um curta dramático, para dirigir, mas não adiantou, se transformou em horror. Depois que se é mordido pelo bicho do filme de horror, fica difícil. Nada é tão divertido de fazer.
6. Nos créditos do filme, tem um ator chamado Jason Priestley. Esse não é o nome verdadeiro dele, é?
É sim. É que a foto do Brendon aparece no filme, como uma das memórias de um dos personagens. Não. Não tem nenhum motivo lógico e provavelmente funciona para tornar algo sem sentido ainda mais difícil de ser compreendido, mas, ora bolas, eu dou boas gargalhadas quando vejo a foto no meio.
7. Você acredita que o cinema de gênero no Brasil tem futuro - digo, comercialmente falando também? Será que um dia iremos ver ao menos uma meia dúzia de longas-metragens brasileiros de terror na telona?
Ô se tem. Dizendo assim, pela experiência do ano passado, com o Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre, dá para dizer que o cinema de gênero vem com tudo, por aí, com a possibilidade de vôos comerciais baixos, mas suficientemente altos para manter uma produção contínua seja para distribuição em cinema, DVD, ou mesmo internet. Não vou dizer que o cinema de gênero não deva tentar sair do gueto, é quase obrigação, mas creio que os filmes que vão estourar comercialmente são os que já vem embalados para venda, como o ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO, que se não fizer bilheteria no Brasil, vai fazer uma tremenda grana no exterior, em salas de exibição e DVD, permitindo que a Olhos de Cão produza novos e novos filmes. Acho que pelo apuro visual do Carlos G. Gananian, por exemplo, ele pode fazer um filme que alcance o grande público, seja nacional ou internacional. E é, claro, não vou me atirar do barco. Eu quero viver de fazer cinema de gênero no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário