quinta-feira, julho 22, 2004

MINHA VIDA SEM MIM (My Life without Me / Mi Vida sin Mi)



Quem me conhece sabe que eu sou chegado a um melodrama, desses que mostram pessoas com doenças incuráveis e se despedindo dramaticamente da vida. Por isso, já imaginei ser um prato cheio pra mim o filme MINHA VIDA SEM MIM (2003), produzido por Agustin e Pedro Almodóvar e com elenco americano. A direção ficou a cargo da cineasta catalã Isabel Coixet, estreando em longa-metragem. Tive de vê-lo na única sessão exibida na cidade até o momento e levei a minha irmã comigo, que adorou o filme, achou lindo e tudo o mais.
 
MINHA VIDA SEM MIM é realmente um filme muito bonito e é quase impossível não derramar algumas lágrimas com a história da jovem Ann (Sarah Polley em interpretação inspirada), que descobre que tem câncer em estágio avançado e tem apenas dois meses de vida. Ela faz, então, uma lista de coisas pra realizar antes de morrer. Dentre elas, a que mais me comoveu foi: "dizer para minhas filhas o quanto eu as amo todos os dias." Mas teve uma dessas coisas um pouco mais polêmica, que foi "fazer sexo com outro homem." Ann era casada e amava o marido, mas como ele tinha sido o único homem que conhecera  (no sentido bíblico) em toda a sua vida, ela gostaria de experimentar com outra pessoa.
 
Ela desejaria também fazer alguém se apaixonar por ela. Esse alguém é Mark Ruffalo, que faz o melancólico Lee, homem que vive numa casa vazia, sem mobília. Ruffalo é um grande ator. Esteve ótimo em EM CARNE VIVA, de Jane Campion, e em CONTE COMIGO, de Keneth Lonergan. Aliás, grandes interpretações têm de sobra em MINHA VIDA SEM MIM. Entre os coadjuvantes há Leonor Wastling, que faz a vizinha de Ann e que emociona em uma das melhores cenas do filme. Deborah Harry, como a mãe de Ann também está perfeita. Ela que já foi uma musa de sua geração, na época do Blondie, agora está velha e com um aspecto amargo.
 
Os momentos mais sublimes do filme são exatamente aqueles que mostram Ann tentando levar a vida normalmente, aproveitando os momentos mais "banais" e vendo a vida com olhos diferentes. É como Pablo Villaça falou na crítica do filme, nós vivemos num estado de automatismo tão grande nesse mundo moderno, que pouco tempo nos sobra para apreciarmos a beleza e o prazer das pequenas coisas. Por exemplo, logo que Ann descobre que está perto de morrer, ela pede ao seu médico uma bala. E, como uma criança, ela sente e aprova o sabor da bala. Esse foi o primeiro momento realmente triste do filme.
 
Interessante notar que os filmes ultimamente têm valorizado mais as canções dos Beach Boys. Depois de "Wouldn´t Be Nice" em COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ, cantada por Drew Barrymore, agora é "God Only Knows" cantada desafinadamente por Sarah Polley. (Essa canção foi a que fechou com chave de ouro o filme SIMPLESMENTE AMOR.) Como a produção do filme é espanhola, a maior parte das canções da trilha são da terra de Almodóvar.
 
Através de contato com o organizador do Cinema de Arte, Pedro Martins, soube que o filme vai ter mais três sessões em Fortaleza, agendadas para os dias 30 e 31/07 e 03/08. Não dá pra perder. Esse é o tipo de filme que leva às lágrimas, mas que é uma celebração da vida.

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