sábado, outubro 25, 2014

RELATOS SELVAGENS (Relatos Salvajes)























Uma das maiores surpresas do ano, RELATOS SELVAGENS (2014), do argentino Damián Szifrón, foi um estouro em seu país de origem, com mais de três milhões de espectadores pagantes. O fato de ter sido produzido pela empresa El Deseo, de Pedro Almodóvar, dá ao filme um luxo na direção de arte e em todos os outros aspectos técnicos que agrada aos olhos.

Mas o mais importante é o sorriso de orelha a orelha que o filme de Szifrón proporciona ao espectador desde o primeiro segmento, que funciona como prólogo que precede os créditos iniciais, que até lembram alguma série de televisão americana bem caprichada. Aliás, as críticas negativas que o filme anda obtendo é dizerem que se parece muito com filme americano. Não sei se concordo com isso. De todo modo, não deixa de ser um filme mais cosmopolita, dentre as produções argentinas recentes.

O primeiro segmento, por ser o mais engraçado, acaba lembrando OS AMANTES PASSAGEIROS, do Almodóvar. Tanto pelo humor absurdo quanto pelo fato de se passar inteiramente dentro de um avião. A história toma forma a partir de uma conversa entre dois estranhos que têm algo em comum. Trata-se de um dos segmentos mais curtos e simples, mas é eficientíssimo ao estabelecer um tom.

Esse tom é acrescido também de suspense nas outras cinco histórias narradas de forma independente. Provavelmente, a melhor delas seja a da disputa entre dois sujeitos em uma estrada. O suspense e o humor negro imperam e o público quase para de respirar para ver a briga entre aqueles dois homens. (Estou sendo um pouco vago quanto às histórias, pois como se tratam de curtas, é preciso tomar cuidado para não falar muito e não estragar as surpresas.)

A história curta que se passa num restaurante de beira de estrada e envolve ódio e sede de vingança é tensa, embora seja a menos interessante; a história de um homem atormentado pela burocracia e pela injustiça (Ricardo Darín) tem ares kafkianos e é o que mais trata de questões sociais, mas sem perder o bom humor em sua conclusão; uma crítica feroz à ambição se apresenta na trama que envolve um atropelamento com fuga e uma família tentando acobertar a situação. Mas o que fecha com chave de ouro esta belezura de filme é mesmo o segmento da festa de casamento, que acaba sendo prejudicada depois que a noiva flagra o noivo se mostrando íntimo com uma das convidadas.

Trata-se, portanto, de um dos filmes mais deliciosos da temporada e merece muito que façamos uma boa divulgação boca-a-boca para que se torne no Brasil um desses poucos fenômenos de bilheteria que sai de algum lugar improvável. Por improvável, quereo dizer que não seja dos Estados Unidos ou da Inglaterra. Como foi o caso do francês INTOCÁVEIS, dois anos atrás.

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