sexta-feira, outubro 24, 2014

DRÁCULA – A HISTÓRIA NUNCA CONTADA (Dracula Untold)


Desde seu lançamento em 1897, por Bram Stoker, Drácula se tornou um dos personagens literários mais fascinantes e logo obteve muitas versões para o cinema. Desde a criatura repugnante de NOSFERATU, de F.W. Murnau (que ganharia um remake nos anos 1970 por Werner Herzog); passando pelo DRÁCULA "oficial" de Tod Browning, com seu charme galanteador; pelo sangrento O VAMPIRO DA NOITE, de Terence Fisher, e suas várias continuações pela Hammer; pelo telefilme DRÁCULA, O DEMÔNIO DAS TREVAS, de John Badham; pelo romântico DRÁCULA DE BRAM STOKER, de Francis Ford Coppola, e até pelo tão criticado DRACULA 3D, de Dario Argento, entre tantos outros filmes com o personagem clássico, toda uma mitologia foi criada, moldada de acordo com a mudança dos tempos e frequentemente revisitado.

A própria mudança na forma como os vampiros passaram a ser apresentados no cinema e na televisão também sinalizam um novo momento. O grafismo e o gore, uma maior sensualidade, a saída do crucifixo como elemento perturbador para as criaturas da noite, e uma maior simpatia por elas contribuíram para que nascesse um Drácula herói (apesar do passado de crueldade), cristão e defensor de sua pátria e sua família, como o da nova aposta da Universal, DRÁCULA – A HISTÓRIA NUNCA CONTADA (2014), do estreante em longas-metragens Gary Shore.

A proposta aqui é juntar o lendário personagem histórico Vlad Dracul, o empalador, que defendeu seu território do expansionismo do Império Otomano, com a história do Drácula, de Bram Stoker, criando, assim, uma origem para o personagem. E o filme até que começa bem, com o diretor conseguindo manter uma narrativa cuidadosa. Não é uma má ideia, mas, aos poucos, DRÁCULA – A HISTÓRIA NUNCA CONTADA vai perdendo sua credibilidade.

Talvez o instante em que se percebe isso com maior força seja no momento em que um padre descobre que ele agora é um vampiro e incita a comunidade a queimá-lo, apesar de ele ter salvado da morte toda a cidade, matando sozinho, com a sua força sobrenatural adquirida, os soldados turcos. É a cena mais improvável pelo modo como ela é porcamente encenada e o começo da descida do filme ladeira abaixo. Nem falo do humor involuntário da presença do homem que deseja ser um servo de Vlad, já que, para o bem e para o mal, ele acaba tendo sua função.

Apesar dos elementos fantásticos e da mitologia em torno dos vampiros, a opção é mais por uma aventura épica, lembrando, com sua fotografia em tons de cinza e seu excesso de CGI (destaque para os milhares de morcegos controlados pelo herói), 300. Especialmente sua continuação. Ainda assim, não reclamo do didatismo e da escolha pela aventura em detrimento do horror, mas reclamaria das pouco convincentes cenas de ação e da tentativa de esconder a violência gráfica, de olho na classificação indicativa.

Infelizmente este é o novo Drácula que a Universal pretende vender para o público, aparentemente simpático ao novo filme, que deve ter uma continuação, a julgar pelo gancho no final. Ainda assim, não deixa de ser mais uma bola fora da Universal, que já havia tentado ressuscitar outros monstros clássicos antes, sem muito sucesso, a Múmia e o Lobisomem. O primeiro até que teve uma aceitação comercial, com direito a uma continuação e um spin-off (O ESCORPIÃO REI). O segundo foi um fracasso de público e crítica, apesar do bom diretor escalado.

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