sábado, outubro 04, 2014

GAROTA EXEMPLAR (Gone Girl)























David Fincher, desde pelo menos SEVEN – OS SETE CRIMES CAPITAIS (1995), tem chamado bastante a atenção das audiências. Ficar com um pé atrás com um trabalho ou outro seu é até normal, pois algumas obras podem perturbar o espectador a ponto de ele não saber se o que acabou de experienciar foi algo bom ou ruim. O fato é que filmes como SEVEN, CLUBE DA LUTA (1999) e o anterior MILLENNIUM – OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES (2011) têm algo que deixam o espectador angustiado ou desnorteado ao final da projeção.

Com GAROTA EXEMPLAR (2014) esta sensação é ainda mais forte, e novamente a trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross contribui para a criação de uma atmosfera tensa e crescentemente perturbadora. Principalmente porque vemos o filme mais pelo ponto de vista do personagem de Ben Affleck, o escritor Nick Dunne.

Amy é mostrada a princípio através de flashbacks, que são narrados com tintas bem diferentes da história que se passa no presente. Inclusive, com um tipo de trilha sonora diferente também, servindo para fazer com que o espectador desconfie de Dunne, que com o tempo passa a ser o principal suspeito pelo desaparecimento de Amy.

O ocorrido causa comoção em rede nacional, já que Amy é escritora de livros infantis bastante populares. E por mais que ela não fosse nenhum exemplo de popularidade na vida real, a imagem que a mídia cria dela é de perfeição. Neste sentido, podemos fazer uma relação direta com outra ótima obra de Fincher, A REDE SOCIAL (2010). Ambos os filmes lidam com o poder da imagem e a mentira que pode se transformar em uma verdade diante das câmeras. Sejam elas de televisão, de um celular ou de segurança.

Mas o que mais perturba em GAROTA EXEMPLAR é a teia com que Nick se vê enredado. O perigoso de contar mais detalhes sobre a trama é tirar do espectador que ainda não viu o filme o prazer das surpresas que a narrativa apresenta ao longo de suas quase duas horas e meia de duração. Uma metragem, aliás, que não chega a pesar, dada a excelente montagem de Kirk Baxter, que tem trabalhado com Fincher desde O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON (2008). Uma direção primorosa junto com uma edição bem cuidada já é quase tudo que se pode querer para um trabalho bem-sucedido.

Quanto às atuações, se Rosamund Pike faz uma personagem marcante e que consegue mexer com as emoções do espectador, Affleck, com sua tradicional atuação econômica, é o ator perfeito para o papel, o de um homem que se vê perdido diante das circunstâncias e que não sabe como expressar suas emoções diante de uma sociedade que parece comer pessoas vivas.

O jogo de mentiras e verdades não ditas que são a marca de outros trabalhos de Fincher, como VIDAS EM JOGO (1997), CLUBE DA LUTA, ZODÍACO (2007) e A REDE SOCIAL, se faz presente de maneira orgânica neste novo trabalho, que está sendo visto por muitos como sua obra-prima. Ou no mínimo o filme que vai aumentar ainda mais o número de admiradores do cineasta. A ponto de crescer a necessidade de avaliar sua obra pregressa. O que é muito justo.

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