sábado, julho 07, 2012

O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA (The Amazing Spider-Man)



A tarefa de Marc Webb não foi fácil: recontar a história de um dos heróis mais queridos dos quadrinhos, já sabendo que seu filme seria comparado inevitavelmente com as versões de Sam Raimi, que tiveram boa aceitação, principalmente de público. Se a tarefa fosse pular a origem do herói aracnídeo, talvez não fosse tão complicada, mas há mesmo a intenção por parte dos produtores de "esquecer" o que foi feito por Raimi e sua equipe e fazer o chamado reboot, termo tão em voga nos dias de hoje.

E assim nasce O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA (2012), uma obra honesta e que procura ser mais fiel do que o filme de Raimi aos quadrinhos criados por Stan Lee e Steve Ditko cerca de 50 anos atrás. E falando na idade do Aranha, não deixa de ser interessante o quanto o herói ainda permanece sendo o mais popular da Marvel. Talvez por causa de sua proximidade com uma pessoa normal. Como muita gente, Peter Parker foi um adolescente que sofreu bullying na escola; sofre para conseguir dinheiro para pagar as contas e dar conta da vida profissional e afetiva; cuidar de sua querida Tia May e - esse é o principal diferencial - ainda enfrentar uma galeria de supervilões tão rica quanto a do Batman.

Para a nova versão, foi escalado Andrew Garfield como Peter Parker; Emma Stone como Gwen Stacy; Rhys Ifans como o Dr. Curt Connors, que se tornaria o Lagarto; Martin Sheen no papel do Tio Ben; e Sally Field como a Tia May. Um elenco bem interessante. E talvez só a Tia May de Sally Field tenha ficado apagada. Em compensação, Martin Sheen como a figura paterna e amorosa do tio que seria assassinado ajuda a dar ao filme uma dimensão mais emocional.

A escolha de Gwen Stacy e não Mary Jane como a primeira namorada também foi um acerto. Era algo que incomodava a muitos fãs do "amigão da vizinhança" essa queima de etapas. Embora Mary Jane represente a grande mulher da vida de Peter, Gwen teve uma importância crucial e até hoje sua morte nas mãos do Duende Verde é uma das mais impactantes da história dos quadrinhos. Falando no diabo, Norman Osborn é apenas citado no filme, com promessa de que deve aparecer futuramente em uma continuação.

Alguns podem dizer que o filme força demais as coincidências no que se refere à relação entre os personagens. Mas acontece que num longa-metragem de cerca de duas horas não dá para perder muito tempo; é preciso ser objetivo e ainda assim fazer um filme que mergulhe na essência trágica do personagem que sofre a dor de perder o tio por irresponsabilidade sua, para então se tornar o Homem-Aranha, com seus poderes recém-adquiridos.

Assim, não dá tempo, dentro de tanta coisa dramática que acontece ainda no começo da origem do personagem, de mostrar o Aranha piadista dos quadrinhos. Isso é apenas visto de relance na ótima sequência do ladrão de carros. É dever, contudo, do diretor e dos roteiristas de aumentar essa característica nos próximos filmes, já que, pelo visto, será mais uma trilogia.

Outro ponto a favor do novo filme é uma melhor agilidade nas cenas de luta, sem falar numa movimentação no espaço mais próxima do real. O Aranha dos filmes de Raimi não parecia de verdade, mas um desenho de videogame. Só o Lagarto que teve mesmo que ser todo feito em CGI, por razões óbvias. Quanto à Gwen de Emma Stone, além de bela e atenciosa, foi retratada fisicamente de modo parecido com os quadrinhos clássicos: o cabelo com franjinha, a minissaia, as meias longas. E o filme, principalmente em sua metade inicial, trabalha melhor essa questão dos relacionamentos, tão bem mostrados em (500) DIAS COM ELA (2009), o longa de estreia de Webb.

Assim, posso dizer que fiquei satisfeito com o novo Homem-Aranha do cinema. Se o primeiro filme ainda ficou muito amarrado à origem do personagem e ainda assim conseguiu desenvolver bem, para os próximos há a promessa de melhorar. Por enquanto, é momento de parabenizar os envolvidos na produção, que coloca a questão da identidade (quem sou eu, quem é você, quem são vocês) acima da questão da responsabilidade, que era a tônica no longa-metragem de Raimi.