quinta-feira, julho 05, 2012
ALMA CORSÁRIA
Rever ALMA CORSÁRIA (1993) ajuda a aceitar melhor a partida de Carlos Reichenbach. É um filme que pinta a morte da maneira mais bonita possível. Não apenas por ser interpretada por Carolina Ferraz, mas por mostrar a sua passagem de uma forma muito serena. Rivaldo Torres, o personagem de Bertrand Duarte, fumante tão compulsivo quanto o Carlão, já a reconhece desde a infância e quando finalmente a encontra, no final, a aceitação vem, junto com o sentimento de dever cumprido, de ter deixado suas marcas aqui na forma do livro de poesia em prosa chamado "Sentimento Ocidental", feito a quatro mãos com o amigo Teodoro Xavier (Jandir Ferrari). A morte é vista, segundo as palavras do próprio Carlão "como bênção e êxtase maior do poeta".
O filme foi exibido na noite desta quarta-feira, dia 4, oficializando a última Sessão do Comodoro. Não pude estar presente, mas resolvi rever o filme em casa para entrar em sintonia com quem esteve lá no CineSesc. Deve ter sido muito bonito. E escolha melhor dentro de sua filmografia não poderia haver. Não que ALMA CORSÁRIA seja o meu favorito dele, mas é, sem dúvida, um de seus trabalhos mais pessoais. E um dos mais bonitos também.
O filme começa com a voz do Carlão, informando que os eventos mostrados naquele filme de ficção foram baseados nas vidas de amigos e na sua própria vivência. Logo, a voz do cineasta está presente nos diálogos, na opção pelo anarquismo como ideologia (a cena das camisas explicita isso), no respeito pelos amigos que resolveram seguir na luta armada contra a ditadura, seguindo doutrinas marxistas e similares, e correndo o risco de serem mortos ou torturados.
O pano de fundo político tinha que estar presente, já que o filme segue as lembranças do protagonista desde fins da década de 1950, passando pelo período mais barra pesada da ditadura, pelas lembranças das mulheres que passaram por sua vida, da fase lisérgica do final da década de 1960, e retornando sempre para a celebração do lançamento do livro, numa modesta pastelaria.
As minhas cenas favoritas são as que envolvem as duas mulheres mais importantes da vida de Torres, as que preencheram a sua vida solitária com momentos de prazer e alegria, ainda que bastante momentâneas. Afinal, não é assim mesmo a vida? Algo que quando visto pelo viés do passado pode ser encarado com romantismo mesmo nos momentos mais rotineiros, mas que ganha ainda mais força quando o coração bate mais forte por causa do amor, efêmero que seja.