quarta-feira, julho 18, 2012

JORNADA TÉTRICA (Wind across the Everglades)



Por mais que seja um filme até que bastante elogiado pela crítica, JORNADA TÉTRICA (1958) é um dos trabalhos de Nicholas Ray de que eu menos gostei. Pra mim, é quase tão desagradável quanto A VIDA ÍNTIMA DE UMA MULHER (1949), que pelo menos não tem problemas de "travamento narrativo". Esse tipo de característica que o filme tem se deve ao fato de que Ray se desligou da produção e passou longe da sala de edição. O filme, que era para ter uma duração de três horas, foi cortado pela metade pela Warner Bros., causando logo a impressão de que alguma coisa está errada naquela narrativa.

Outro problema constante eram as discussões frequentes entre Ray e o roteirista, Budd Schulberg, o mesmo de SINDICATO DE LADRÕES, de Elia Kazan. Além do mais, tanto Ray quanto o roteirista tinham problemas com excesso de bebedeiras durante as filmagens. Para completar, a cena final também não foi filmada por Ray, mas por uma pessoa qualquer. Curiosamente, a cena ficou boa. Foi a terceira produção frustrada seguida de Ray. Com QUEM FOI JESSE JAMES? (1957) e AMARGO TRIUNFO (1957), ele teve também problemas com a produção e os estúdios.

Há semelhança temática entre JORNADA TÉTRICA e AMARGO TRIUNFO: ambos mostram dois homens que são rivais; em ambos, um deles é visto como herói, o outro como vilão, mas Ray trata de borrar essas impressões ao longo do filme. No caso de JORNADA TÉTRICA, temos Walt Murdoch, o professor vivido por Christopher Plummer que chega à Miami da virada do século XIX para o século XX e que é proibido de exercer o seu ofício por arrancar a pluma de uma ave que enfeitava o chapéu de uma mulher que descia do trem. Era moda na época esse enfeite com penas de aves. E ele acreditava que era um absurdo matar as aves para satisfazer a vaidade daquelas mulheres. O filme, inclusive, tem algumas cenas bem cruéis, em estilo semidocumental, dos caipiras dos pântanos matando as aves para venderem as penas.

O antagonista de Murdock é o líder dos caipiras dos pântanos, o agressivo e anárquico Cottonmouth (Burl Ives). O filme cresce justamente quando parte para o que interessa: a disputa final entre Murdock e Cottonmouth. Este último passa a admirar o seu rival, que poderia ser morto conforme ele quisesse, mas os dois passam a noite entornando garrafas de vinho. Depois de ambos caírem bêbados, é a vez de outra prova: desta vez, adentrando o pântano em uma canoa. Curiosamente, há nesse e em outros filmes de Ray personagens com uma coragem que se aproxima do suicídio. Ou, como o autor de "The Films of Nicholas Ray" diz, a redenção através do sacrifício com a morte.

Um problema, pra mim, é que eu vi o filme com legendas em espanhol; e isso geralmente me deixa um pouco irritado, sem saber o que acompanho: se o inglês falado ou o espanhol escrito. Acredito que se eu não soubesse nada de inglês, não teria esse tipo de problema. Mas não quero culpar esse empecilho como principal motivo de eu ter desgostado de JORNADA TÉTRICA. Até porque há muitas sequências sem diálogos.