domingo, julho 29, 2012

BATMAN – O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE (The Dark Knight Rises)



O cinema é uma caixinha de surpresas e justamente como aconteceu no ano passado, quando a adaptação de quadrinhos de super-heróis de 2011 que eu mais esnobava acabou sendo a melhor do ano (X-MEN – PRIMEIRA CLASSE), eis que o fato se repete com BATMAN – O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE (2012), justamente de um cineasta de que não sou nada fã, embora reconheça suas ótimas ideias, mas que geralmente me decepciona a maneira como ele materializa essas ideias para as telas.

Todo mundo diz: não há um grande vilão como o Coringa de Heath Ledger no filme. Mas seria mesmo difícil haver. Aquilo foi algo único, uma interpretação quase possessa de um personagem quase demoníaco no corpo de um ator. Portanto, é mais do que satisfatória a opção por um supervilão como Bane, interpretado por um bombado Tom Hardy. Sem falar que a ênfase no tema do terrorismo exacerbado ao longo de todo o filme é muito representativa da sociedade em que vivemos. Principalmente na paranoica sociedade americana.

Elogiar aspectos técnicos como efeitos visuais e pirotecnias de primeira qualidade é chover no molhado. Hollywood, com suas produções milionárias desse porte, tem mais é que mostrar serviço nesse aspecto. É praticamente uma obrigação deles. Portanto, são outros os aspectos que merecem ser avaliados, como: a construção da narrativa; o desempenho dos atores e o quanto eles se ajustam aos personagens; a ordenação das cenas e o cuidado com os furos, que muitas vezes acontecem devido aos cortes na montagem.

Com a ausência do Coringa de BATMAN – O CAVALEIRO DAS TREVAS (2008) e com uma história infinitamente superior ao fraco BATMAN BEGINS (2005), o Bruce Wayne/Batman de Christian Bale ganha força, torna-se um herói ainda mais problemático, quase um Howard Hughes no início do filme, escondido em sua decadente mansão. A queda do homem e o desaparecimento do herói são o mote inicial do filme, além do aparecimento do terrorista mascarado Bane e de uma ladra inescrupulosa e sexy como a Mulher-Gato de Anne Hathaway. A atriz mostra mais uma vez a sua versatilidade e competência.

O elenco, aliás, é muito atraente. Além dos já citados, há ainda Michael Caine como Alfred; Joseph Gordon-Levitt como uma espécie de policial braço direito de Batman; Gary Oldman como o Comissário Gordon; Morgan Freeman como Lucius Fox; a linda Marion Cotillard como a milionária Miranda Tate; e Matthew Modine como um policial de Gotham. Um elenco desses é de fazer inveja a muito diretor.

Algumas sequências são particularmente memoráveis, como a sucessão de explosões na cidade, provocada por Bane, e o caos que se instala (a cena no estádio de futebol americano é fantástica e o garotinho cantando "Star-Spangled Banner" só contribui para tornar o cenário ainda mais frágil); a primeira queda do morcego; as intervenções da Mulher-Gato; a ênfase nos policiais e a batalha corpo-a-corpo entre eles e os seguidores de Bane. Até lembra as batalhas sangrentas de GANGUES DE NOVAS YORK, de Martin Scorsese. Mas, claro, sem a violência explícita.

A trilha sonora tribal, especialmente o tema de Bane, é também digna de nota, cortesia de Hans Zimmer. É curiosamente um filme que, apesar de ter uma duração mais longa do que os anteriores, parece mais bem resolvido, por mais que Bane, com o tempo, deixe de ser um vilão assustador para se tornar até um tanto irritante, no desenvolvimento. E a reviravolta final, embora seja um tanto apressada, é relativamente satisfatória. Enfim, um filme de Nolan que me satisfaz desde INSÔNIA (2002). E lá se vão dez anos.