quarta-feira, outubro 22, 2008

EXORCISMO NEGRO / O EXORCISMO NEGRO



Continuando a peregrinação pelos filmes de José Mojica Marins, chegamos a um dos mais importantes filmes de sua carreira: EXORCISMO NEGRO (1974), o primeiro filme que ele fez sem preocupação com dinheiro, sem ter que ficar catando pedaços de negativo do lixo ou pedindo ajuda aos amigos. Dessa vez, a produção ficou a cargo do endinheirado Aníbal Massaini Neto, mais conhecido por produzir pornochanchadas e alguns filmes de Walter Hugo Khouri. O filme foi feito na esteira do sucesso de O EXORCISTA nos cinemas. A intenção de Mojica e Massaini era lançar o filme exatamente no mesmo dia da estréia do longa-metragem de William Friedkin no Brasil. Naquela época, o terror passou a ser um gênero mais respeitado pelo público e parecia um momento ideal para trazer de volta o Zé do Caixão.

Antes desse filme, Mojica havia realizado o western feijoada D’GAJÃO MATA PARA VINGAR (1972) e a pornochanchada A VIRGEM E O MACHÃO (1974), que dirigiu por encomenda e não quis "sujar" o nome, assinando com o pseudônimo J. Avelar. EXORCISMO NEGRO começa bem e a premissa do filme é criativa, embora a idéia de explorar a própria fama já houvesse sido utilizada em RITUAL DOS SÁDICOS (1969), cujos planos de exibição foram frustrados pela censura. O filme começa com Mojica, interpretando a si mesmo, recebendo a imprensa para falar de seu recente sucesso na Europa.

O Mojica do filme é um sujeito intelectual, que discute sobre parapsicologia e Arthur Conan Doyle, fuma cachimbos e bebe do melhor numa casa de campo toda chique, onde se hospeda para ver se encontra idéias para um novo filme, já que estaria sofrendo de bloqueio criativo. Uma das frases que ele diz na coletiva de imprensa, quando perguntado quem é mais importante: José Mojica Marins ou o Zé do Caixão, é: "claro que é José Mojica Marins. Zé do Caixão não existe." Provavelmente para se vingar do seu criador, a casa de campo passa a ser aterrorizada por fenômenos sobrenaturais. O primeiro a ser possuído por uma entidade maligna é o personagem de Jofre Soares, que sofre um delírio e ataca Mojica. Logo depois, outras pessoas também são possuídas e outros fenômenos ocorrem, como cadeiras andando sozinhas pela casa, livros sendo arremessados contra Mojica, entre outras coisas. Há também uma subtrama envolvendo um pacto que a mulher do dono da casa havia feito com uma bruxa no passado para ter uma filha e a promessa de que quando a criança crescesse teria que casar com Eugênio, interpretado por Adriano Stuart, também creditado como um dos roteiristas. Inclusive, a não-inclusão do nome de Rubens Luchetti nos créditos deixou o roteirista bastante chateado.

Como, por causa do atraso da censura para liberar o filme, Massaini não conseguiu fazer com que EXORCISMO NEGRO estreasse no mesmo dia de O EXORCISTA, Mojica aproveitou as enormes filas que se formavam para ver o filme mais aguardado do ano e se vestiu de Zé do Caixão, dizendo que americano não sabia nada de diabo, que quem sabe de diabo era brasileiro etc. E ainda deu entrevistas xingando o filme gringo, encontrando defeitos no trabalho de Friedkin. Com toda essa publicidade, EXORCISMO NEGRO rendeu um bom dinheiro. Enquanto isso, a vida privada de Mojica passava por problemas. Ele começou a beber muito nessa época depois que suas outras duas mulheres (Maria e Rosita) ameaçaram-no de não deixá-lo mais ver as crianças. E com tanta bebedeira, Nilce, sua mulher mais fiel e presente, até quis se separar, depois que ele, bêbado, deu um soco em seu nariz, tendo sido socorrida por Mário Lima que chegou a empurrar o amigo com um pontapé. Mojica ficou desesperado com a possibilidade da separação e implorou para que ela não o deixasse, tornando-a sócia de uma produtora que fundaria: a Produções Cinematográficas Zé do Caixão, cujo primeiro filme a sair da fornada seria A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES (1976).

P.S.: Agradecimentos ao amigo Renato Doho, que gravou esse filme do Canal Brasil pra mim há séculos, no tempo em que a gente ainda trocava filmes em fitas VHS. Foi bom poder reutilizar o meu videocassete, que já devia estar se sentindo desprezado. :)

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