segunda-feira, outubro 20, 2008

DUAS ALMAS SE ENCONTRAM (Barbary Coast)



Numa semana onde prevaleceram filmes medíocres ou que não me agradaram, embora tivessem algo de bom, uma obra subestimada de Howard Hawks salvou minha semana. DUAS ALMAS SE ENCONTRAM (1935) é um filme esquecido ou pouco comentado de Hawks. Nem o próprio cineasta gostou, conforme disse quando perguntado a respeito na entrevista para Peter Bogdanovich contida no livro "Afinal, Quem Faz os Filmes". O próprio Bogdanovich, aliás, perguntou a ele sobre o filme como se fosse um trabalho realmente esquecível ("Você se lembra de BARBARY COAST?"). E, no entanto, o filme é uma delícia de ver, com uma protagonista que é um arquétipo das mulheres hawksianas: independentes, fortes, sensuais e obstinadas.

Assim é Mary Rutledge, a personagem de Miriam Hopkins, que na época estava tão bela que lembra muito a Kate Hudson. E imaginem uma mulher linda daquelas aparecendo numa San Francisco em processo de construção, no final do século XIX, quando a região se tornou povoada de homens em busca de ouro. As ruas ainda não estavam pavimentadas, então era lama por todos os lados e a principal diversão dos homens era a bebida e os cassinos. Mary Rutledge chegou lá em busca de um homem com quem iria se casar; não por amor, mas pelo dinheiro. Ela buscava na verdade um milionário. Logo que desembarca na cidade, porém, recebe a notícia de que o sujeito havia morrido. Em vez de pegar o navio e voltar para Nova York, Mary decide ficar e usar de sua beleza para subir na vida naquela cidade suja, arranjando outro milionário para bancá-la.

É aí que entra o personagem de Edward G. Robinson, num papel bem mais crível do que o português "capitão gancho" de O TUBARÃO (1932). Ele é um homem inescrupuloso, dono não apenas do cassino da cidade, mas, com seu poder, dinheiro e crueldade, é o dono de San Francisco. Nem os xerifes nem a imprensa conseguem detê-lo. Robinson, que na época já havia assimilado a persona perversa de um gângster, assim que põe os olhos na bela Mary a toma para si. Ou pelo menos, tenta negociar com ela uma espécie de contrato. O negócio não resulta muito bem para ele, já que a mulher sempre arranja uma maneira de se desviar dele na hora do sexo e fica trabalhando no cassino. A reviravolta acontece com a entrada em cena, na segunda metade do filme, do personagem de Joel McCrea, uma espécie de poeta, que também veio de Nova York em busca do ouro, mas encontra o verdadeiro ouro ao se deparar com Mary numa noite chuvosa. O encontro dos dois mudará o modo de perceber a vida da jovem e mexerá com o coração de ambos.

DUAS ALMAS SE ENCONTRAM traz em cena um dos coadjuvantes mais simpáticos da filmografia de Hawks, Walter Brennan, que sempre faz o papel do velho desdentado e engraçado, que hoje é mais lembrado por sua participação na obra-prima ONDE COMEÇA O INFERNO (1959), embora, entre esses dois filmes, ele tenha trabalhado com Hawks em mais quatro outros títulos. Na época de DUAS ALMAS SE ENCONTRAM, ele não era tão velho, tanto que Hawks conta que ao vê-lo com dentadura e bem vestido não o reconheceu. Walter Brennan ganharia o Oscar de ator coadjuvante pelo filme seguinte de Hawks, MEU FILHO É MEU RIVAL (1936), o próximo que verei do diretor.

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