segunda-feira, dezembro 05, 2005

O CASAMENTO

  

Entre os menos de dez títulos da filmografia de Arnaldo Jabor, os que mais se destacam são aqueles inspirados na obra de Nelson Rodrigues. Antes de O CASAMENTO (1975), o diretor havia realizado o superior TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA (1973), também baseado na obra rodriguiana. Entre os filmes de Jabor - e saindo um pouco de Nelson Rodrigues -, também gosto bastante de EU TE AMO (1981), mas acho que é mais pela presença de cena de duas das mais brilhantes estrelas de nosso cinema, Sonia Braga e Vera Fischer, em momentos de alta voltagem erótica. 

O CASAMENTO, como é de praxe em filmes inspirados em Rodrigues, é uma crítica à família burguesa brasileira, suas regras de moral e sua hipocrisia. Na trama, Paulo Porto é o Dr. Sabino, homem rico e de família tradicional que se prepara ansiosamente para o casamento de sua filha Glorinha (Adriana Prieto). O casamento da filha perturba o seu espírito, que nas 48 horas que antecedem o evento, chega a confessar a uma mulher com quem faz sexo que ele chegou a ter desejos homossexuais na adolescência. Além do mais, durante o sexo com a secretária, ele grita o nome da filha, por quem tem um desejo intenso. Pra completar, o noivo de Glorinha é gay. Outros personagens interessantes dessa novelona são: Xavier (Nelson Dantas), homem que se apaixona pela secretária do Dr. Sabino, mas que é casado com uma mulher leprosa; e Antonio Carlos (Érico Vidal), suicida em potencial que é apaixonado por Glorinha. Uma das seqüências mais memoráveis de O CASAMENTO é a da conversa no carro entre Glorinha e o pai, com a filha lhe perguntando se ele a ama. 

Na verdade, como eu vi o filme há muito tempo, acabei esquecendo de muita coisa. O que eu mais lembro é do tom operístico, exagerado, meio como um circo de horrores. Eu diria que bem mais grotesco até do que outros filmes baseados em Nelson Rodrigues, como OS 7 GATINHOS e BONITINHA, MAS ORDINÁRIA, pra citar dois exemplos bem gritantes. Ainda assim, apesar de todo esse clima de tragédia e de perversões sexuais, o filme não é impactante o suficiente e nem tem boas cenas de sexo. 

Esse foi o último trabalho de Adriana Prieto. Depois desse filme, ela morreu num acidente de carro. Seu fusca bateu num carro da polícia. Ela tinha apenas 25 anos. Gravado da Globo.