Há muito tempo se fala na decadência do cinema italiano. E com razão, principalmente se levarmos em conta a sua glória nos anos 1960 e 70. Aí não dá pra ficar sempre esperando só os novos trabalhos de Marco Bellocchio e Nanni Moretti para nos animarmos a ver os novos filmes da terra da bota. É preciso confiar nos novos talentos também, mesmo que eles ainda estejam em fase de construção de sua obra. E dentre esses novos talentos, vale destacar o trabalho dos cineastas Fabio Grassadonia e Antonio Piazza, os mesmos de SALVO - UMA HISTÓRIA DE AMOR E MÁFIA (2013).
Eles estão de volta em seu segundo longa-metragem, O FANTASMA DA SICÍLIA, que também até poderia ganhar o mesmo subtítulo do anterior, já que também é uma história de amor e também trata da máfia siciliana. A grande vantagem do novo filme em relação ao anterior é que há um capricho maior na construção cênica, na beleza das imagens, na fotografia e nas cores que destacam a bela paisagem de uma região rural da Sicília.
Esse excessivo cuidado com a técnica às vezes até prejudica o aflorar mais forte das emoções, o que é algo que nem combina tanto com o espírito mais explosivo dos italianos. Assim, pouco compartilhamos do amor da protagonista, uma garotinha chamada Luna (Julia Jedikowska), pelo jovem Giuseppe (Gaetano Fernandez), mesmo em circunstâncias tão trágicas. Por isso é preciso que a protagonista externe suas angústias e sua dor oralmente para seus pais para que esse sentimento possa ser ouvido e explicitado também para o espectador. E é, de fato, o momento mais comovente de todo o filme.
Na trama, Luna começa a ter o seu primeiro contato mais próximo com Giuseppe, filho de um gângster. Acontece que depois do primeiro beijo entre eles o menino desaparece. E ninguém na cidade sabe dizer o que aconteceu. Ou sabe, mas não quer dizer à menina. Ela faz uma campanha, distribuindo cartazes pela cidade, para descobrirem o paradeiro do rapaz, mas em vão. O que acaba sendo um forte meio para essa dura realidade que a circunda é o caminho do sonho - por isso a comparação que andam fazendo do filme com O LABIRINTO DO FAUNO, de Guillermo Del Toro.
Há sim esse paralelismo entre as duas obras, assim como o fato de haver uma forte ligação com a realidade (a história do sequestro do menino Giuseppe é baseada num caso real), mas os dois filmes seguem caminhos diferentes e, diferente do filme de Del Toro, o mundo da fantasia não é tão assustador quanto a realidade. Está mais para uma fuga, embora, a partir dessa fuga é que Luna passe a ter lampejos de onde encontrar o garoto. A cena em que ela mergulha dentro da água para descobrir a casa onde ele está preso é sensacional. Já as cenas que mostram o garoto no cativeiro são muito tristes e passam uma sensação de desesperança acima de tudo.
Por mais que a obra careça de algo que o coloque como um exemplar de um novo e emergente cinema italiano de primeira grandeza, é admirável e animador o suficiente para que possamos acompanhar com interesse a trajetória de Grassadonia e Piazza. Se continuarem assim, nessa curva ascendente, o próximo filme dos diretores será de fato maravilhoso. Enquanto isso, é preciso valorizar e até rever com carinho O FANTASMA DA SICÍLIA, pelo tanto de beleza e de dor que ele é capaz de proporcionar.
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