Durante as discussões acaloradas e polêmicas sobre o tal pós-horror, A GHOST STORY (2017), de David Lowery, foi citado frequentemente como um dos principais exemplares do suposto subgênero. Mas isso na verdade não importa muito, a não ser para, mais uma vez, discutir se o filme em questão é feito ou não para assustar ou assombrar o espectador. Assustar, no caso, definitivamente, não. Já assombrar, ele pode sim. Mas no sentido de que pode deixar o espectador pensando no tempo, na morte e na solidão.
A GHOST STORY subverte não só os clichês do drama e do horror, mas também muitas expectativas. Contar a história de um casal que vive feliz em uma casa e que é separado pela morte de um deles poderia ser contado de maneira bem dramática. Em vez disso, sequer vemos o acidente que vitimou C (Casey Affleck), apenas a imagem de seu corpo morto, no carro. Isso depois de mal termos tempo de acompanhar a intimidade do casal.
M (Rooney Mara), sua namorada (ou esposa), vai até o necrotério para reconhecer o corpo. A câmera se mostra distante da personagem como se fosse alguém vendo às escondidas aquele momento tão íntimo, que, ao contrário do que se poderia imaginar, não é carregada de lágrimas e choro. Ela sai triste, talvez ainda sem acreditar no que acabou de acontecer. Logo após a saída dela, C se levanta e vai até a sua casa, com um lençol branco cobrindo o corpo e com dois buracos nos olhos, acentuando a tristeza e parecendo um desses fantasmas de desenho animado.Seu destino não poderia ser outro que não a casa onde morava.
Porém, ao contrário do fantasma de Patrick Swayze em GHOST - DO OUTRO LADO DA VIDA, C não tem ou não consegue se comunicar com a amada ou dar conta da rapidez da passagem do tempo. O modo como o filme lida com os hiatos temporais é admirável. Tão admirável quanto deixar o espectador impaciente, mas também disciplinado, ao ter que acompanhar uma cena de cinco minutos de Mara comendo uma torta, enquanto o fantasma a observa.
São coisas assim que fazem de A GHOST STORY uma experiência não só inusitada, como também um dos filmes mais tristes do ano. Afinal, presenciar o luto pelos olhos do morto é ainda mais doloroso do que pelos olhos dos vivos. Sem falar que o morto em questão é entregue totalmente à solidão da eternidade, preso àquela casa e ao amor de uma mulher que ele vê partir. Para não dizer que ele não consegue se comunicar com ninguém, há um outro fantasma, na casa ao lado em situação ainda mais triste, já que ele nem mesmo se lembra mais quem esperava chegar.
A passagem rápida do tempo ajuda o filme a se tornar mais palatável para os espectadores mais apressados. E há um momento muito especial que servirá como elemento de suspense (ou algo parecido), que surge a partir da cena da misteriosa nota que a personagem de Mara esconde dentro de uma das frestas da casa de madeira. O filme ainda guarda algumas surpresas muito bem-vindas até o final.
E assim David Lowery inscreve seu nome na lista dos nomes quentes de Hollywood. Não havia conseguido ainda no bom drama AMOR FORA DA LEI (2013), que também contava com Affleck e Mara, mas com o original e incomum A GHOST STORY muita gente vai ficar de olho nos seus próximos trabalhos.
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