sexta-feira, outubro 20, 2017

DETROIT EM REBELIÃO (Detroit)

Kathryn Bigelow nos convida para um passeio pela Detroit de 1967, no olho do furacão de uma situação extremamente tensa acontecendo já no calor de um momento incontrolável de rebelião da população negra da cidade, diante da violência policial sofrida. Como resultado, parte da população negra passa a depredar e saquear algumas lojas. Afinal, quando o próprio Estado é o verdadeiro vândalo, abre-se precedente para o vandalismo em menor escala.

Na verdade, DETROIT EM REBELIÃO (2017) não se preocupa em contar ao espectador a grande história que está acontecendo. No começo do filme a câmera nervosa raramente para quieta e é difícil não sair da sessão com pelo menos um pouco de dor de cabeça. O sofrimento por que passa o espectador durante a metragem se faz necessário para que experimentemos um pouco do terror sentido pelo grupo de pessoas atacadas por policiais racistas em um motel, durante os últimos dois terços do filme.

A primeira parte serve para deixar o espectador confuso diante de tantas coisas acontecendo, já que somos levados para o meio da ação, com cortes rápidos, de diversas ações se sucedendo ao mesmo tempo. Aos poucos a câmera se acalma um pouco e vamos conhecendo os personagens, entre eles um policial de Detroit extremamente racista, que já na primeira oportunidade de atirar em um rapaz negro que acabou de roubar uma loja, atira por trás enquanto ele corre. Curiosamente, o tal policial é interpretado pelo garoto da comédia FAMÍLIA DO BAGULHO, de Rawson Marshall Thurber. É admirável que, de adolescente virgem, Will Poulter tenha resultado no que talvez seja o vilão mais odioso do cinema em 2017.

Ele é Krauss, o líder da caçada ao suposto sniper do prédio onde estão uma dupla de amigos que faz parte de um grupo vocal típico da Motown na década de 1960, duas jovens moças com pouco dinheiro, mas dispostas a se divertirem naquele lugar, e outros rapazes, sendo que um deles brinca com uma arma de brinquedo que assusta a polícia e o exército. Quando o lugar é invadido, os policiais brancos não entendem o que aquelas mulheres brancas estariam fazendo naquele lugar. Um dos rapazes é logo considerado o cafetão por estar no mesmo quarto que elas.

Esse jogo perturbador de abuso de poder continua num crescendo contínuo que nos leva a nos sentir tão impotentes quanto aqueles homens e mulheres ameaçados pelo ódio racial. O terror é exponencializado com os assassinatos de homens negros naquele prédio. Ou seja, quem quer ir ao cinema para se divertir apenas, DETROIT EM REBELIÃO não é uma boa pedida.

Kathryn Bigelow vem se especializando em buscar em seus filmes climas de tensão no mínimo desconfortáveis. Depois de ganhar o Oscar com GUERRA AO TERROR (2008) e de entrar de cabeça na caçada a Osama Bin-Laden em A HORA MAIS ESCURA (2012), ela retorna disposta a tratar de outra guerra, uma guerra que os americanos vêm travando desde a época da escravidão, uma guerra covarde em que o mais forte se alimenta de humilhar o mais fraco. A tiracolo, vem a questão da misoginia, andando de mãos dadas com o racismo.

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