terça-feira, outubro 31, 2017

JOGO PERIGOSO (Gerald's Game)

Foi a partir de O ESPELHO (2013) que Mike Flanagan passou a ser visto como um dos possíveis mestres do cinema de horror contemporâneo. Embora seus filmes não se enquadrem no que atualmente se chama de pós-horror, sendo até um pouco tradicionais na forma, há uma sofisticação visual admirável. Assim, mesmo quando pega um projeto já em andamento, como foi o caso de OUIJA – ORIGEM DO MAL (2016), o cineasta transforma o que é apenas um filme esquecível em uma história de certa forma independente e além de tudo aterrorizante, sabendo muito bem aproveitar os clichês dos filmes de fantasmas e casas assombradas.

Aliás, que especial que foi o ano de 2016 para Flanagan, que compareceu com três filmes. Além do prequel de OUIJA, houve também o eletrizante HUSH – A MORTE OUVE (2016) e o sentimental e sobrenatural O SONO DA MORTE (2016). Se em 2017 sua produção diminuiu, ao menos a Netflix, agindo aqui como produtora também, promoveu uma bela adaptação de uma obra de Stephen King a cargo de Flanagan.

JOGO PERIGOSO (2017) já chama atenção desde o primeiro trailer veiculado. Na trama, Carla Gugino e Bruce Greenwood são um casal que está passando por uma crise no casamento e o marido resolve apimentar um pouco a relação, brincando de práticas de sadomasoquismo em uma casa afastada. A ideia dele seria algemar a esposa na cama para fazer sexo com ela. Quando a coisa começa a parecer com um estupro ela fica um bocado incomodada. Fica mais perturbada ainda quando o marido tem um ataque cardíaco e morre, sem poder tirá-la das algemas a tempo.

A personagem de Gugino não fica sozinha, porém. Tem o fantasma do marido para conversar com ela e ajudá-la a pensar friamente diante da situação que se tornaria muito pior caso ela não pensasse friamente. Afinal, a casa estava distante de qualquer outra, sendo impossível alguém ouvir os gritos da mulher aflita.

O filme sofre uma quebra de ritmo quando somos levados para um flashback da infância da personagem, quando ela lembra um momento nada agradável com o pai. Ao falar de um assunto tão espinhoso, mas ao mesmo tempo tão urgente quanto o abuso infantil, Mike Flanagan mais uma vez trata de contar histórias dolorosas de famílias, como vem sendo sua marca desde pelo menos ABSENTIA (2011).

Ao mesmo tempo em que esse flashback quebra o ritmo, ele ajuda a enriquecer um filme que parecia não se encaminhar para lugar nenhum, ou que seria apenas um thriller tenso e pouco memorável. Além do mais, há a presença de um ator que talvez só seja lembrado por causa de TWIN PEAKS, o gigante Carel Struycken, que reapareceu no "retorno" como uma das entidades do White Lodge. A presença dele em JOGO PERIGOSO é mais de natureza sobrenatural (ou uma alucinação da personagem). Outra presença marcante no elenco de apoio é Henry Thomas, perfeito no papel do pai da protagonista, em especial na cena do eclipse.

Assim, JOGO PERIGOSO, mesmo que fique um pouco atrás das obras para cinema de Flanagan, é um filme que merece atenção, mesmo por quem não acompanha o trabalho do diretor. A tensão e a temática adicional já são motivos mais do que suficientes para dar aquela espiada.

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