sexta-feira, setembro 08, 2017

IT - A COISA (It)

Um dos maiores méritos de IT - A COISA (2017), de Andy Muschietti, é conseguir apresentar algumas surpresas bem perturbadoras já a partir de seu prólogo, já que tudo o mais tem uma ambientação retrô, como se os realizadores (o diretor e os roteiristas) quisessem trazer à tona não apenas os anos 1980, mas também o jeito de fazer terror daquela época. Assim, IT acaba se tornando uma das obras mais anacrônicas do gênero, nesse momento em que virou moda celebrar a década das extravagâncias e do neon.

No caso de IT - A COISA, somos lançados ao final da década, os anos 1988-89, o que para mim já é interessante, pois o último ano foi o ano de início de minha cinefilia, e eu fui ao cinema ver alguns daqueles filmes que passavam no cinema da cidadezinha onde o filme é ambientado, entre eles A HORA DO PESADELO 5 - O MAIOR HORROR DE FREDDY, de Stephen Hopkins, que contava com um vilão/monstro tão exageradamente sádico e falastrão quanto o palhaço Pennywise criado por Stephen King.

Na trama de IT, uma série de crianças e adolescentes passa a desaparecer na pequena cidade de Derry. Muitos acreditam que o lugar é amaldiçoado por algo de difícil explicação. Para o espectador, porém, já se sabe que o grande responsável por esses desaparecimentos é o tal palhaço assassino, embora não saibamos a origem do mal.

Um dos pontos bem positivos do filme de Muschietti é trazer simpatia para o grupo de garotinhos perturbados de uma forma ou de outra pelo palhaço e que resolvem, por conta própria, tentar resolver o caso e enfrentar não apenas o monstro, mas principalmente seus próprios medos. Nesse sentido, seus medos também são mostrados no terror da vida real, como em coisas como o pai que abusa da filha e o bullying extremamente violento que sofre o gordinho simpático e amável por um grupo de delinquentes.

Outra coisa que conta pontos a favor é o humor, que aparece nos diálogos espirituosos dos meninos. Inclusive, um deles, por também fazer parte do elenco de STRANGER THINGS, torna a semelhança com a série da Netflix ainda mais explícita. Na verdade, a série é que buscou no romance de Stephen King inspiração. Mas IT prefere seguir um caminho mais tradicional na construção do horror. Tanto que parece às vezes uma paródia de filme de horror, de tão próximo que está das convenções do gênero e dos sustos fáceis com uso de música orquestrada tradicionalmente utilizada em tantos exemplares.

O grupo de garotos encontra na figura de Beverly, uma garotinha ruiva que também sofre bullying na escola (Sophia Lillis, que tem tudo para ser um sucesso), uma espécie de primeira aproximação com o sexo oposto. Há uma cena particularmente bonita, que é quando os meninos vão nadar de cueca e ela aparece em trajes de baixo para nadar com eles no lago para depois tomar um sol.

O sol, aliás, é um elemento que funciona como um alívio em muitas sequências. Várias vezes os meninos estão enfrentando o horror em suas próprias casas, nos esgotos ou na casa assombrada e abandonada da cidade quando saem para o sol. E é como se aquilo os salvasse do perigo. Por isso não só a visão do sol como também a menção ao verão fazem com que esse contraste entre luz e trevas seja um elemento que ajuda a simplificar a dicotomia bem e mal que o filme traz.

Mesmo com o advento de filmes de horror mais complexos e que procura fugir das convenções, não deixa de ser curioso o apelo popular de IT - A COISA para as novas gerações. O filme vem sendo muito bem recebido pelo público, com uma bilheteria que tem lhe garantido o sucesso. Agora é esperar pela adaptação da segunda parte do livro, desta vez com os personagens adultos.

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