Quem é Denis Villeneuve? Não pergunto esperando a resposta mais óbvia sobre o fato de ele ser um diretor canadense surgido nos anos 1990 e que foi ganhando cada vez mais o status de diretor singular. Refiro-me principalmente às suas principais marcas autorais. Acho que ao longo do texto poderemos encontrar essas marcas, mas no momento talvez o ideal seja fazer uma rápida comparação deste 32 DE AGOSTO NA TERRA (1998), de título tão estranho, com suas obras mais recentes e mais ligadas à ficção científica, como A CHEGADA (2016) e o ainda inédito BLADE RUNNER 2049 (2017).
No caso de 32 DE AGOSTO NA TERRA, embora não haja um cenário futurista, temos algo que se aproxima desse tipo de cinema que parece ser frio, mas que esconde camadas complexas de sentimentos profundos. Podemos ver isso no citado A CHEGADA também; assim como no filme-paulada POLYTECHNIQUE (2009), que tenta disfarçar, no modo como é narrado, a dor que aquele massacre gerou em grandes proporções. Já em 32 DE AGOSTO NA TERRA, quando possível, Villeneuve tenta nos apresentar a um quarto de motel que mais parece uma cápsula de uma espaçonave.
Esse tipo de invenção não deixa de ganhar força quando analisamos o filme tendo um conjunto da obra já grandiosa em perspectiva. Assim, por mais que se trate de um trabalho menor, sobre uma história de amor minimalista que teima em fugir dos sentimentalismos, como se o mundo tivesse que ser mesmo frio, o alcance de 32 DE AGOSTO NA TERRA é maior do que o esperado. Na trama, Simone, personagem de Pascale Bussières, resolve mudar de vida depois de um acidente quase fatal. Modelo internacional, larga tudo para fazer algo que considera mais importante naquele momento: ser mãe. Como ela não tem um namorado, quer que o pai biológico seja o seu melhor amigo, Philippe (Alexis Martin).
Até aí tudo bem. Já faz alguns anos que esse tipo de negociação é feita. A questão é que Philippe é apaixonado por Simone. Fazer sexo apenas para gerar um filho passa a ser uma tarefa extremamente complicada, levando em consideração que ele não conseguiria fingir não sentir nada por ela além de um amor de amigo. Assim, Philippe luta contra a frieza da situação. Ou daquele mundo. E, como quase sempre acontece com aqueles que seguem o caminho do coração, ele não se dá bem. É quase como uma Lei de Murphy aplicada aos sentimentais.
Em um de seus trabalhos seguintes, Villeneuve voltará ao pessimismo trágico e irônico da vida moderna, com o impactante INCÊNDIOS (2010), este, mais semelhante a uma tragédia grega. Mas antes de chegar lá, em seu primeiro longa-metragem, ele já trazia uma semente do que viria. A visão amarga da vida o perseguiria nas obras seguintes. Nós, como apreciadores de seu belo trabalho, agradecemos.
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