segunda-feira, maio 02, 2011

MARY



Interessante o início da década de 30. Com o advento do cinema falado, alguns estúdios acreditavam que a barreira da língua ainda era muito forte e que as legendas não eram suficientes para ajudar a importar um filme de um país para outro. Vai ver também não se pudesse fazer legendas ou houvesse ainda muito analfabetismo. Foi por isso que a Universal fez uma versão para o mercado espanhol de DRÁCULA - que dizem que é até melhor que a de Tod Browning. E foi por isso que Alfred Hitchcock fez uma versão alemã de um de seus primeiros filmes falados, ASSASSINATO (1930). Chama-se MARY (1931).

Tenho pouca lembrança de ASSASSINATO (vi em 2003, conforme arquivos do blog), mas pelo que dizem MARY tem a trama igualzinha, só mudando mesmo os atores e a metragem, que é um pouco menor. Deve ser mais interessante ver os dois filmes seguidos para sentir a diferença e os detalhes. Alguns movimentos de câmera de Hitchcock nessa fase inicial falada parecem curiosamente mais hesitantes do que os da fase muda, como, por exemplo, na cena da câmera aproximando-se do rosto do dramaturgo Sir John, numa conversa dele com um casal de amigos a fim de investigar o caso e salvar Mary. Esse tipo de detalhe ajuda a construir ou antecipar o suspense.

E ASSASSINATO e MARY são os únicos filmes de Hitchcock do tipo "quem é o culpado?". O diretor não curtia esse tipo de narrativa, que considerava iguais a palavras cruzadas, que uma vez resolvidas acaba-se a graça. Mesmo assim, não estando entre suas melhores obras, não deixa de ter o seu grau de interesse. Sem falar que os filmes da fase europeia tinham mais bizarrices, como o sujeito que se veste de mulher para fazer o seu número de trapezista no circo.

Outro detalhe curioso está na presença de cena de Mary, a acusada de ter matado uma mulher e sentenciada à pena de morte. Em alguns momentos, ela lembra uma espécie de Joana D'Arc, uma santa prestes a pagar pelo pecado de alguém. Quer dizer, já no começo da carreira, o tema da transferência da culpa, tão presente nas obras posteriores de Hitchcock, já se manifestava de maneira forte.

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