segunda-feira, maio 23, 2011

EL JUSTICERO



"O filme é mediocre e se encerra com uma explosão de masoquismo."
Jean-Claude Bernadet


Um filme desprezado pelo próprio diretor. Assim podemos descrever EL JUSTICERO (1967), o trabalho que sucedeu a obra-prima VIDAS SECAS (1963). Alguns críticos consideraram como uma espécie de conclusão da trilogia iniciada com RIO, 40 GRAUS (1956) e RIO, ZONA NORTE (1957), por mostrar a zona sul do Rio de Janeiro, mas o próprio Nelson Pereira dos Santos nega essa afirmativa. E realmente trata-se de outro registro, com o espírito da época do ano de 1967, o ano mais psicodélico do século. Quem sabe se tivesse sido fotografo em cores e não em preto e branco, EL JUSTICERO teria sido mais lembrado, pois o cenário dos interiores é cheio de estilo.

Porém, não resta dúvida de que é um filme menor do diretor, bem irregular. A história por trás das filmagens, que diz que o diretor não estava gostando nem um pouco de estar fazendo aquele filme, já entrega que um trabalho feito dessa maneira raramente sai bom. Assim, o aspecto de desleixo na caracterização dos personagens, na história e na edição está presente do início ao fim. A melhor coisa do filme é Adriana Prieto, em sua estreia como atriz, fazendo o papel da jovem loira que conquista o coração do playboy El Justicero, vivido por Arduíno Colassanti. Ele ficaria famoso em outro trabalho de Nelson, COMO ERA GOSTOSO O MEU FRANCÊS (1972), por causa de sua nudez e das batalhas contra a censura.

A censura também pegou no pé de EL JUSTICERO, que tira o sarro do regime militar, antes de a coisa esquentar de verdade. Em certo momento, El Jus diz que está com uma assessoria tão ruim quanto a de Jango; em vários outros momentos, uma jovem comunista é mostrada com simpatia, falando mal dos burgueses e do capitalismo. O próprio pai de El Jus é um velho general da aeronáutica que gosta de resolver as coisas no jeitinho brasileiro. Por causa da repressão e do fato de a censura ter sumido com os negativos do filme, só sobrou uma cópia em 16 mm. Talvez por isso as imagens que temos são tão ruins e talvez nunca teremos uma cópia realmente boa do filme. Fica, porém, como um interessante registro de época e um caso interessante de "filho rejeitado" de um diretor.

P.S.: A edição de maio da Revista Zingu! já está no ar. O destaque da edição é o montador Luiz Elias, que já editou alguns dos melhores trabalhos de José Mojica Marins, Ozualdo Candeias, entre outros. A veterana atriz Liana Duval também ganha um dossiê.

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