terça-feira, maio 03, 2011

AMOR?



Desde PRO DIA NASCER FELIZ (2006) - filme que eu adoro - que se percebe semelhanças entre o cinema de João Jardim e o de Eduardo Coutinho. Quase como uma relação de discípulo e mestre. Se Coutinho teve uma longa história de documentários com pessoas conversando e até se confessando diante das câmeras, Jardim tem pouco tempo nesse caminho. Mas mesmo num filme como LIXO EXTRAORDINÁRIO (2010), onde ele é apenas parcialmente creditado como diretor, percebe-se fortemente a sua mão, o seu contato com os catadores de lixo e aquelas emocionantes cenas proporcionadas por aquelas pessoas extraordinárias.

Com AMOR? (2011), Jardim parece mais uma vez seguir os passos do mestre Coutinho, que mudou o rumo de sua carreira com JOGO DE CENA, ao questionar o que é verdade e o que é mentira, misturando atrizes famosas com pessoas anônimas, contando histórias muito particulares de suas vidas. Em AMOR?, Jardim faz algo semelhante, ao contratar atores e atrizes profissionais e conhecidos para interpretar o papel de pessoas entrevistadas previamente. O tema: relacionamentos cheios de violência e paixão. Para não ficar tão parecido, o diretor utiliza em alguns momentos closes em mãos e outras partes do corpo do entrevistado, cenas dos atores tomando banho etc. Aliás, a água é uma constante no filme. Se ele acredita ou não em astrologia, teve a sensibilidade para exibir o simbolismo da água, representando as emoções e o amor, para o seu filme.

Alguns depoimentos, obviamente, se destacam mais. E a presença de atores no lugar de "pessoas reais" acaba se justificando quando vemos declarações de homens que confessam seu vício em causar violência nas mulheres que passaram por suas vidas, como na forte sequência de Ângelo Antônio. Entre as mulheres, interessante Jardim usar duas atrizes para interpretar uma mesma personagem. Sílvia Lourenço e Fabíula Nascimento se alternam no papel da moça lésbica que fala de seu mais intenso relacionamento e de sua destruidora experiência com as drogas. Também merece destaque a interpretação de Júlia Lemmertz, uma das várias mulheres violentadas e que sentem dificuldade de se impor perante a violência brutal de seus companheiros. Ela fecha bem o filme, que também tem o mérito de renovar o interesse do espectador, quando ele imagina que já está cansado do formato e dos depoimentos.

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