terça-feira, dezembro 14, 2010

VINCERE



No momento mais emocionante de VINCERE (2009), Ida Dalses, a personagem de Giovanna Mezzogiorno, assiste no hospício onde está presa a O GAROTO, de Charles Chaplin, e, sentindo a imensa falta do filho que lhe foi arrancado, chora copiosamente. E devo confessar que o mesmo ocorreu do lado de cá da tela. O amor de mãe, associado às convicções de uma mulher que se recusa a aceitar as imposições de um sistema sujo e cruel, torna esse momento particularmente especial.

Marco Bellocchio, possivelmente o maior dentre os diretores italianos vivos, parte mais uma vez para o cinema-denúncia, ou melhor, para um cinema que provoca reflexões sobre a História. Em particular, a história de uma mulher apaixonada por Benito Mussolini, o líder fascista que mais tarde se aliaria a Hitler na Segunda Guerra Mundial, mas que antes de ter a imagem que tem hoje era idolatrado pelo povo da Itália, como se pode ver nas impressionantes imagens de arquivo enxertadas no filme.

Com o maravilhoso BOM DIA, NOITE (2003), Bellocchio já havia lidado com assuntos de interesse histórico, mas o que ele faz com esses dois exemplares do que há de melhor no hoje cambaleante cinema italiano não é apenas refletir sobre momentos importantes da História, mas enfatizar o quanto é importante nos lembrarmos - ou descobrirmos - de certos eventos, a fim de evitar que eles não ocorram novamente. Sem falar que no caso de VINCERE dá para fazer um claro paralelismo com o atual líder italiano.

Interessante que, no começo do filme, até pensei que Bellocchio fosse retratar um lado simpático de Mussollini. "Talvez ele não seja esse monstro que a História o transformou", eu pensei, mas à medida que vemos o drama de Ida, na melhor performance de Mezzogiorno, não nos resta dúvida de que o sujeito era de fato uma criatura malígna. A paixão que se transforma em ódio profundo ao ditador -que a partir da segunda metade do filme não aparece mais na pele de Filippo Timi, mas em imagens de arquivo ou fotografias - faz de VINCERE uma espécie de horror psicológico. Tanto que em alguns momentos eu mesmo estava duvidando da sanidade mental de Ida. Impressionante. VINCERE é, sem dúvida, um dos grandes filmes do ano.

Nenhum comentário: