segunda-feira, janeiro 23, 2006

A MARCHA DOS PINGÜINS (La Marche de l'Empereur)

 

Lembro que, quando eu era criança, aproveitava meu tempo livre com a criatividade. Assim como fazia com os bonecos dos super-heróis - alguém se lembra daqueles que a gente ganhava quando juntava tampinha da Pepsi? -, às vezes eu ficava olhando pra rua e vendo o comportamento dos cachorros vira-latas e inventando historinhas para eles. Como eu gostava muito de história em quadrinhos, esses cachorros me inspiraram uma vez até a fazer uma história sobre eles também. O problema maior, e que me impediu de eu continuar com esse trabalho, era que eu nunca fui um bom desenhista. Hoje eu sei que é possível fazer uma HQ de qualidade com desenhos toscos, mas naquela época isso nem me passava pela cabeça. 

O trabalho de Luc Jacquet em A MARCHA DOS PINGÜINS (2005) é semelhante ao que eu fazia quando criança, guardadas as devidas proporções. Jacquet colocou dois diretores de fotografia durante um ano na Antártica filmando o máximo possível de imagens dos pingüins-imperador para que, com a edição, fosse possível criar uma história ficcional baseada no ciclo reprodutor dos pingüins. E a história, reforçada com as imagens espetaculares, é realmente impressionante. Acredito que a cena mais forte do filme é aquela em que os pingüins machos agüentam uma demorada tempestade de gelo, enquanto protegem com todo o cuidado os seus filhotes. 

A MARCHA DOS PINGÜINS é um filme tão envolvente que nos momentos em que nossos pequenos heróis passam por apuros a gente sente até um certo medo também. Há dois momentos de terror e suspense no filme. Até das muito criticadas narrações, eu gostei. E não me senti nem um pouco constrangido. Não sei como está a versão dublada em português. O filme tem três narradores: dois para o casal de pingüins e um para o filhote. Quem faz a narração do macho, inclusive, é Charles Berning, de ESPIONAGEM NA REDE, de Olivier Assayas. 

O que eu achei mais curioso foi o fato de esses pingüins passarem meses sem comer nada e do enorme sacrifício a que eles se submetem para manter vivo o ovo ou o filhote. Também achei curioso o fato deles serem capazes de conhecer uns aos outros, mesmo depois de todo o tempo distante. O filme faz com que a gente se sinta maravilhado com o milagre da vida. Em certos momentos parece que os pingüins formam um só todo pensante, sem individualismos. Mas em outros, há uma grande semelhança com o individualismo humano. Sobretudo na cena que uma das fêmeas, depois de ter perdido seu filhote durante uma tempestade de gelo, tenta tomar o filhote da outra.

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