EXÍLIOS (2004), de Tony Gatlif, foi um filme que fez com que eu lidasse principalmente com meus preconceitos. Especialmente quando me senti forçado a ver aquele longo plano-seqüência da incorporação, já perto do final do filme. Quem me conhece sabe o quanto eu vejo com olhos não muito amistosos algumas religiões afro. Acho que o fato de eu ter raízes no Protestantismo contribui um pouco para essa minha resistência a religiões que lidam com incorporação de entidades ou algo parecido.
Outro preconceito, esse de natureza ainda mais cultural, se deve aos países visitados pelos protagonistas. Acho que não ficaria nada à vontade tendo que dividir o mesmo prato de comida com dezenas de estranhos. EXÍLIOS foi um dos poucos road movies que não me trouxe aquela sensação de alegria que normalmente sinto com esse tipo de filme. Talvez eu já estivesse prevendo o que viria pela frente. Quem não viu o filme e me vê falando assim até acha que se trata de uma tragédia ou coisa parecida. Não é.
Como cinema, não dá pra negar as qualidades do filme. O formato scope é muito bem preenchido e as cenas que mostram a natureza - as flores, as árvores, as nuvens, a cena de sexo no pomar - também são muito bonitas. Gostei particularmente das cenas que focalizavam a personagem de Lubna Azabal. Inclusive, essa atriz está num filme que muito me interessa: PARADISE NOW (2005), de Hany Abu-Assad, sobre dois amigos de infância que são recrutados para uma missão suicida, trabalhando de homens-bomba.
Quanto a EXÍLIOS, apenas não me identifiquei com os personagens, não entendi a proposta nem as metáforas do diretor, não tenho espírito cigano e nem tenho curiosidade de procurar minhas raízes. Lembro que um dia, até pensei nisso, de onde veio o avô de meu avô, por exemplo. Mas não chegou a ser uma idéia fixa, algo que me fizesse ir atrás de minhas origens. Talvez eu veja a questão das origens como algo que transcende o corpo e o núcleo familiar, algo ligado diretamente ao mundo espiritual. Acredito que EXÍLIOS foi um filme que o diretor fez para si mesmo, o que é ótimo. Sorte dele que muita gente gostou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário