Tanto o título nacional quanto o original já deixam uma pista para o espectador do que realmente trata A PASSAGEM (2005), mais recente filme dirigido pelo versátil Marc Forster. Esse é o tipo de filme que vale mais pelo visual, pelos aspectos técnicos - montagem inventiva, belíssima fotografia - do que pela condução da trama, que chega a ser um convite ao sono. Eu, por exemplo, tive que lutar contra o sono a partir da metade do filme e só fui acordar de fato numa cena de acidente de carro, realmente perturbadora, já perto do final.
Não é qualquer um que consegue manter o interesse do espectador com uma história confusa. Nem todo diretor é David Lynch, que pode se dar ao luxo de nem mesmo ter que explicar a trama pra ninguém. Talvez se o filme de Forster optasse pela não explicação da trama, poderia adquirir um status de cult ou algo parecido. A PASSAGEM lembra um pouco o intrigante (e superior) ALUCINAÇÕES DO PASSADO, de Adrian Lyne.
Na trama, Ewan McGregor (que parece saído direto do set de A ILHA) é um psiquiatra que substitui uma colega de trabalho e começa a cuidar de um paciente que planeja se matar em poucos dias (Ryan Gosling). O psiquiatra namora uma ex-paciente que sobreviveu a uma tentativa de suicídio (Naomi Watts). Depois de uma série de situações estranhas, ele começa a questionar a realidade. Impressionante como nos últimos anos o cinema americano tem abordado a idéia da descrença da realidade. MATRIX seria o exemplo mais popular, enquanto que CIDADE DOS SONHOS seria o mais profundo.
Tenho acompanhado os filmes de Marc Forster e dá pra notar que ele quase sempre consegue extrair de seus filmes ótimas performances do elenco. GRITOS NA NOITE (2000) tem aquele desempenho excepcional de Radha Mitchell; A ÚLTIMA CEIA (2001) tem aquela poderosa cena de sexo com Halle Berry; EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA (2004), embora apoiado por um ótimo elenco, já se constitui numa involução em sua arreira. Talvez a opção por um trabalho mais experimental como A PASSAGEM seja uma tentativa de voltar às origens, de se aproximar novamente da criatividade do cinema independente, que é de onde ele veio. Seu próximo trabalho, STRANGER THAN FICTION (2006), tem um enredo interessante sobre um sujeito (Will Ferrell) que ouve uma narração de sua própria vida, como se ele fosse apenas um personagem de ficção. Novamente o tema do questionamento da realidade?
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