TAXI DRIVER
"The whole conviction of my life now rests upon the belief that loneliness, far from being a rare and curious phenomenon, is the central and inevitable fact of human existence."
Thomas Wolfe
"God's Lonely Man"
Essa é a frase que abre o documentário de Laurent Bouzereau presente como o principal extra do DVD de TAXI DRIVER – Edição de Colecionador. Engraçado que a primeira vez que vi esse filme eu não tinha notado que era um filme sobre a solidão. Talvez por ser difícil identificar-se com o personagem perturbado de Robert DeNiro. Eu mesmo há uns cinco anos me comportava como se tivesse ódio da humanidade. Tudo por causa da solidão, da insatisfação, da sensação de abandono. Ainda bem que eu nunca quis pegar uma arma e sair atirando nos meus desafetos. Hoje em dia eu banco o bom rapaz e não tenho mais raiva de ninguém.
Voltando pro filme, rever em DVD, com som original e digital e em widescreen, é outra coisa. Se bem que eu achei a fotografia um pouco escura, mas acho que o filme foi feito assim mesmo. A intenção era mesmo fazer um filme cru, sem muitos enfeites nos diálogos, tentar aproximar o filme da vida. Tanto que DeNiro pra se preparar para o papel, dirigiu uns táxis. Inclusive, um passageiro que pegou o taxi reconheceu o ator e diz a lenda que o cara falou: “você ganhou o Oscar por O PODEROSO CHEFÃO II e está agora trabalhando de taxista?” Quem também aprendeu com alguém das ruas foi Jodie Foster, que teve o auxílio de uma verdadeira prostituta. Inclusive, a prostituta é aquela que aparece do lado da Jodie no filme.
O personagem de DeNiro era meio estranho em relação a sexo: ia para cinemas pornô, mas assistia o filme comendo pipoca como se fosse um filme de aventura. E ainda fez a besteira de levar uma garota pra esse tipo de lugar. Ele tinha algo de inocente.
O contraponto da sujeira nas ruas é a personagem de Cybill Shepherd. Meu Deus, aquela mulher nos anos 70 era gatíssima. Acho que no ano do filme, 1976, ela estava no auge da beleza. Ela já tinha estreado em A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA (1973), do Bogdanovich, e parece que o Scorsese gostou dela. Esse pessoal é tudo da mesma geração mesmo: Scorsese, DePalma, Spielberg, Lucas, Coppola, Bogdanovich. São todos da mesma panelinha.
Inclusive, foi DePalma quem apresentou Paul Schrader a Scorsese. E o Schrader já tinha o roteiro de TAXI DRIVER pronto há algum tempo. Depois dá pra saber o que aconteceu.
No documentário MAKING TAXI DRIVER, de 70 minutos, há a presença de muita gente boa: além do diretor e do roteirista, tem a Cybill, o DeNiro, o Keitel, a Jodie Foster, o Albert Brooks.... Nossa, quanta gente boa num filme só. E ainda tem mais: o cara que fez a trilha sonora é ninguém menos que Bernard Hermann, que estava muito doente quando trabalhou nesse filme e acabou morrendo logo. Mesmo assim, foi indicado ao Oscar pela trilha sonora, concorrendo com ele mesmo, pelo OBSESSION do DePalma.
Além desse documentário, há também o script original do Schrader, storyboard e uma galeria de fotos com um comentário em áudio do Laurent Bouzereau. Ele entrega um monte de coisas, como de onde surgiram os nomes dos personagens, histórias sobre Scorsese, Truffaut e Schrader etc. Sobre os nomes, por exemplo, soube que Travis vem de “travel” (viagem) e Betsy era o nome de uma antiga namorada de Schrader. E por aí vai. Quem quiser saber mais que alugue o DVD e afine os ouvidos, porque os extras não vêm com legenda. Uma pena, principalmente quando é o Schrader que está falando. Aquele cara parece que tá com uma batata quente na boca. E eu que já não tenho um listening skill lá muito bom, penei pra entender. Mas valeu. Valeu também os dez reais que paguei por esse disquinho. Uma pechincha.
Só pra completar: TAXI DRIVER nem é o meu preferido do Scorsese. Na frente, ficam TOURO INDOMÁVEL, OS BONS COMPANHEIROS, A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO e GANGUES DE NOVA YORK.
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