sábado, janeiro 17, 2015

ACIMA DAS NUVENS (Clouds of Sils Maria)



Faz toda a diferença ver um filme de um diretor talentoso e já numa fase madura de sua carreira. Sentimos uma segurança maior na construção dramática, nas escolhas estéticas, no timing dos diálogos e, no caso de ACIMA DAS NUVENS (2014), no modo brilhante como Olivier Assayas lida com a interpretação, seja a dos personagens interpretando/ensaiando uma peça, seja aquela mais naturalista, mais próxima de um diálogo real. Ainda assim, há momentos em que esse tipo de diferença se confunde.

E nesse sentido vale destacar a diferença entre o esforço de Juliette Binoche em lidar com a nova personagem que irá interpretar, uma mulher de 40 anos, e Kristen Stewart, sua assistente, ajudando-a a repassar o texto e muitas vezes conversando sobre o quanto a sua chefe não é suficientemente aberta aos novos valores do mundo cada vez mais pop. A questão do medo de envelhecer e da inveja se fazem presentes nessa fogueira das vaidades que é o filme de Assayas.

Por mais que ACIMA DAS NUVENS tenha os seus problemas, muito deles se deve à má escalação de Chloë Grace Moretz e no quanto ela está ruim no papel. Pelo menos ela aparece pouco. O que conta mesmo é a excelência de Kristen Stewart, que se revela uma atriz de primeira grandeza (além de exalar sex appeal) ao duelar com Juliette Binoche (pode-se dizer até que vencendo, se fizermos disso uma disputa) nos intensos debates nos Alpes Suíços, onde boa parte da narrativa se desenrola. Aliás, quem não gosta de filmes com muitos diálogos, não deve gostar tanto assim de ACIMA DAS NUVENS, que supera nisso até mesmo o drama familiar HORAS DE VERÃO (2008), um dos mais verborrágicos da carreira do cineasta.

Dividido em três partes, sendo a segunda bem mais longa que as demais, ACIMA DAS NUVENS apresenta uma estrutura cheia de fade outs que passam uma sensação de que perdemos algo da narrativa, dando certo ar de mistério, mas também privilegia planos-sequência de longas conversas. Há uma bela coreografia desses planos, feita com muita sutileza, tanto em cenas em interiores, quanto nas que mostram a bela paisagem dos Alpes Suíços, que na telona do cinema é de encher os olhos. O fato de a janela ser em scope potencializa a força das imagens.

A trama começa em um trem em movimento e a primeira imagem que vemos é de Valentine (Kristen Stewart) se virando muito bem como assessora de Maria, famosa atriz de sucesso vivida por Binoche. Maria atuou em diversos filmes de Hollywood, assim como também em seu país natal, a França, e também tem uma boa carreira nos palcos. Ficamos sabendo também de seu processo de divórcio, através das ligações que recebe do futuro ex-marido. Dentro do referido trem, recebe-se a notícia de que o diretor de teatro que receberia uma homenagem de Maria havia falecido.

Moretz, como a garota-problema ao estilo de Lindsay Lohan que faria o papel que Maria interpretou na peça quando tinha 18 anos, não está nada bem em cena e por muito pouco não estraga o filme, que parece caminhar em ovos em seu epílogo. Felizmente, Assayas, ainda que tenha exagerado um pouco na duração das cenas e se perceba a duração do filme (um problema de edição), consegue se sair bem neste que é o mais americano de seus filmes. Embora se fale bastante também de cinema, é o teatro que Assayas parece querer homenagear desta vez. Pode-se dizer que, apesar das pedras no caminho, ele foi bem-sucedido. 

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