terça-feira, maio 17, 2005

CRUZADA (Kingdom of Heaven)

 

Quando eu pensava que Ridley Scott estava se recuperando e começando a fazer filmes legais com OS VIGARISTAS (2003), ele volta com mais um filme repulsivo, a exemplo do que fizera antes com os horríveis ATÉ O LIMITE DA HONRA (1997) e FALCÃO NEGRO EM PERIGO (2001). CRUZADA (2005) é sério candidato a pior filme do ano. Junte-se um diretor que gosta de filmar cenas de ação com cortes rápidos e filtros pra disfarçar a incompetência, um ator totalmente inexpressivo e uma história que não desperta o menor interesse, mesmo tendo a seu lado a vantagem de ser baseada num interessante momento histórico da humanidade. 

Pra não dizer que o filme não tem nada que tenha me agradado, posso dizer que gostei da presença de cena do ator que faz o líder Saladino, o estreante Ghassan Massoud. Ele faz com que a gente acredite na nobreza do líder muçulmano, que é até hoje venerado como símbolo da resistência do povo islamita contra a invasão ocidental. 

Outro ponto positivo do filme é a maneira como ele pinta os muçulmanos, se comparados aos cristãos, assassinos cruéis. Mas se o filme fosse valorizar os atos de violência dos cristãos, que invadiram, destruíram, mataram e saquearam a região da Palestina, aí já seria sacanagem. Inclusive, até achei que o tom heróico da trilha sonora, nas seqüências de vitória dos cristãos, está totalmente deslocada e ambígua. E apesar da forte presença de Saladino, o herói do filme não deixa de ser o ferreiro bondoso interpretado por Orlando Bloom. 

Sobre as verdadeiras cruzadas, esse mês nas bancas a Superinteressante traz uma ótima matéria de capa sobre o assunto, mostrando o evento tanto do ponto de vista dos europeus, quanto dos árabes. Uma coisa que eu não sabia é que os muçulmanos eram superiores cultural e economicamente aos europeus. E que até hoje eles acreditam que seu atual atraso se deve à destruição que os cristãos causaram em seu território há mil anos. As Cruzadas são só mais uma mancha na história suja da Igreja Católica. 

Voltando ao filme e seus problemas, nem mesmo a bela Eva Green, Ridley Scott soube aproveitar. Ela interpreta a princesa de Jerusalém, irmã do rei Baldwin. Edward Norton, que faz o rei Baldwin, não dá as caras no filme, já que seu personagem é acometido de lepra e usa uma máscara de metal até quando está dormindo - pra falar a verdade, quando vi o filme, nem sabia que era ele. Entre outros astros mal aproveitados, estão Liam Neeson e Jeremy Irons. 

Depois falam mal de TRÓIA e ALEXANDRE. TRÓIA pode não ser mesmo um grande trabalho, mas Oliver Stone, com seu ALEXANDRE, fez um filme empolgante, ainda que irregular, com cenas de batalha bem coreografadas e um virtuosismo técnico de dar gosto. Até Luc Besson, com seu JOANA D'ARC se saiu melhor que Scott e seus filmes de ação nojentos. Por onde anda Paul Verhoeven? O verdadeiro filme com o nome de "Cruzada" seria o projeto dele, que até hoje infelizmente não saiu do papel.

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