quarta-feira, fevereiro 11, 2004

A ÚLTIMA GARGALHADA (Der letzte Mann)



Trilha sonora utilizada:
Radiohead - HAIL TO THE THIEF


Nesses dias, botei na cabeça que queria ver um filme mudo com uma trilha sonora moderna para ver que barato dava. E não é que funcionou? A idéia era ignorar a trilha constante no DVD, e experimentar ver o filme aproveitando-me também de momentos emocionantes da música. Escolhi o Radiohead pós-OK COMPUTER exatamente por já se parecer por si só com uma trilha pra cinema. (Ou vocês não acharam “Everything in its right place” em VANILLA SKY um dos pontos altos do filme?). O Radiohead dos novos tempos não tem a preocupação de fazer melodias assobiáveis e fáceis, o que tiraria a atenção do filme. Acho que fiz uma boa escolha pra trilha, apesar de preferir KID A.

Sobre trilhas sonoras diferentes usadas em filmes mudos, nos anos 80, METROPOLIS (1926), de Fritz Lang, foi reexibido nos cinemas com uma trilha modernosa. Não é filme mudo, mas há a lenda de que DARK SIDE OF THE MOON, do Pink Floyd, é um disco que funciona muito bem se posto como trilha sonora do filme O MÁGICO DE OZ. Dizem que acontece uma surpreendente sincronia entre as duas obras.

Bom, é claro que não houve uma excelente sincronia entre esse disco do Radiohead e a obra-prima de Murnau, mas quero comentar aqui algumas coisas interessantes. Algumas faixas funcionaram bem e causaram uma “quase sincronia”, especialmente “Sit down, stand up”, uma canção angustiante que combinou com a rotina do personagem principal, o porteiro, no início do filme. “We suck young blood” coincidiu com a sensacional seqüência do sonho do protagonista. Além do mais, auxiliado pela música, eu sentia certas palpitações no coração quando ângulos de câmera “milagrosos” me pegavam de surpresa várias vezes durante o filme. O que mais me impressiona é que esse filme foi feito em 1924!!!

Essencial pra quem leva cinema a sério, A ÚLTIMA GARGALHADA, de F. W. Murnau, é uma dessas obras que continuam impressionando apesar do passar dos anos. Também é um filme que comprova o poder das imagens, quando sabiamente utilizadas. O filme não tem as legendas que serviam de muletas para vários filmes mudos. No filme inteiro há apenas uma legenda semi-explicativa na reviravolta final, depois de uma hora de filme. Fora isso, parte da trama é “explicada” por palavras somente através de uma carta e de um jornal. Diferente de D.W. Grifith, por exemplo, que precisava de muitas palavras para ser entendido.

Na trama, um porteiro de um hotel luxuoso, por estar muito velho, é destituído de sua função e passa a trabalhar como atendente de toalete, uma posição que para ele era humilhante.

Mas como já dizia Hitchcock: menos importante é a história; mais importante é a maneira como ela é contada. E nisso Murnau era gênio. Ele é talvez o mais importante dos cineastas inventores do Impressionismo Alemão. Seus outros filmes mais famosos são NOSFERATU (1922), FAUSTO (1926) e AURORA (1927).

Vendo os comentários no IMDB, soube que esse filme teve um remake em 1955, sendo que, no lugar do porteiro, a protagonista era a linda Romy Schneider. Fica como curiosidade. Há muito o que analisar nessa obra, como o simbolismo da humilhação e do uniforme presentes no filme, mas não ouso tentar.

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