segunda-feira, fevereiro 23, 2004

DOGVILLE



DOGVILLE, o filme-polêmica do momento, é filme irmão de DANÇANDO NO ESCURO (2000), do mesmo Lars Von Trier. Acho que por isso não gostei – por se parecer com seu antecessor. Se no filme ganhador da Palma de Ouro, o sofrimento e a submissão da protagonista Björk chegava ao nível do insuportável, aqui a coisa se torna menos mau por termos uma excelente atriz como Nicole Kidman encabeçando o elenco e dando mais credibilidade à trama.

DOGVILLE é um filme às vezes bonito plasticamente. Gostei bastante da cena da Nicole no meio das maçãs e das cenas de cima, mostrando o mapa de Dogville. Também não dá muito pra reclamar da inovação, que tem sido uma marca do cinema desse diretor. Se por um lado seus filmes podem ser chatos ou politicamente estúpidos, por outro, não dá pra negar que o homem está sempre fazendo coisas originais no que se refere à forma. É só lembrar da narrativa em segunda pessoa e os mixes de fotografia em preto e branco e colorida de EUROPA (1991); das canções dos anos 70 entrecortando a trágica história da personagem de Emily Watson em ONDAS DO DESTINO (1996); da utilização inteligente e marketeira dos preceitos do Dogma 95 em OS IDIOTAS (1999); e do melodrama musical utilizando-se de uma cantora pop em DANÇANDO NO ESCURO. Em DOGVILLE, Von Trier resolve fazer um teatro filmado sem paredes. Apenas com alguns móveis e linhas brancas no chão para delimitar as casas e as ruas da cidade.

Mas se na forma, Von Trier está bem, o mesmo não se pode dizer com certeza do conteúdo. O que dizer de um filme que exalta a morte dos americanos? Não foi isso que o diretor tentou dizer no final de DOGVILLE? Aí é que está. O filme deixa muitas dúvidas. Afinal de contas, o que o diretor quis dizer? Seria Grace uma espécie de deus com o poder de destruir a todos com seu poder? Ou uma espécie de Jesus Cristo enviada ao mundo para sofrer e conhecer a natureza ruim do ser humano? E se a bronca não é apenas com os americanos mas com toda a raça humana, porque esse sentimento anti-americano? Afinal, não somos todos maus e arrogantes?

Aliás, aquela seqüência final de Grace com o chefe dos gângsters, conversando sobre quem é mais arrogante é de dar nos nervos de tão chata que é. Naquela hora me deu uma vontade de ir embora. Ir embora, inclusive, era uma das palavras que eu mais ouvi do público durante a sessão. Tinha uma moça sentada atrás de mim que falou que ia embora quando o filme ainda estava em uma hora e meia. (Mas se eu não me engano, ela resistiu às três horas de duração do filme.)

Porém, o que me fez desgostar desse filme foi principalmente a falta de um sentimento de prazer da minha parte. Dizem que o filme homenageia o espetacular BARRY LYNDON (1975), do Kubrick, mas no filme do mestre eu senti um prazer tremendo. Em DOGVILLE, há um clima de mau estar generalizado durante a projeção. É como se o filme tivesse sido feito sem amor. É um filme do mau, como dizem.

Acima eu falei que achei DOGVILLE bastante parecido com DANÇANDO NO ESCURO, mas vendo uma crítica de Kleber Mendonça Filho, vi que ele fala que este é um filme que inicia uma trilogia: a “U, S e A”, com histórias passadas nos EUA. Isso significa que vem mais merda no ventilador por aí.

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