quarta-feira, fevereiro 11, 2004

A ENCANTADORA DE BALEIAS (Whale Rider)



Engraçado. Quando eu estava voltando da sessão desse filme, estava lendo no ônibus o livro O INVENTOR DA SOLIDÃO, de Paul Auster, e há no livro uma citação ao Livro de Jonas (da Bíblia), que o autor menciona como uma das mais poderosas estórias sobre medo e solidão. Aí, eu lendo sobre esse livro do Jonas, que ficou dias na barriga de uma baleia, lembrei que vi num filme recentemente outra menção a esse mítico profeta. Mas em que filme era? Terá sido num dos dois Khouris que eu vi recentemente? Ou terá sido num sonho ou era apenas impressão minha? O fato é que nesse momento em que eu me sinto acovardado diante da vida, me deu uma vontade de reler esse livro. Acho que vou fazer isso nesses dias. É curtinho. Paul Auster me despertou essa vontade.

Ao contrário de Jonas, que se acovardou e fugiu com medo de ser um mensageiro de Deus, em A ENCANTADORA DE BALEIAS, de Niki Caro, vemos Paikea (Keisha Castle-Hughes) uma garotinha com espírito de liderança, que perdoa o avô pelos maus tratos, que o ama e o entende mais do que a grande maioria dos adultos do vilarejo. A menina é descendente de uma linhagem nobre de um subgrupo dos maoris. Ela seria imediatamente posta como futura líder, se não tivesse nascido mulher. A partir dessa situação, o filme mostra uma sutil revolução feminina, que não afronta os mais velhos e suas tradições mas que, ao mesmo tempo, se impõe para mostrar o seu valor.

Eu confesso que fiquei bastante emocionado com esse filme. Não estava esperando tanto assim. O filme é um sensível drama que se diferencia daqueles made in Hollywood, que a gente está acostumado a ver.

A garotinha de 13 anos, Keisha Castle-Hughes, foi indicada ao Oscar pelo papel, o primeiro e por enquanto único de sua carreira. E entrou para a história da premiação como a mais jovem atriz a concorrer na categoria de atriz principal. Difícil não se derreter na cena em que ela faz um discurso na escola e confessa o seu profundo respeito e amor pelo avô.

Outro tópico de discussão que o filme propõe é a respeito da sobrevivência de certas tradições. Eu não me considero uma pessoa tradicional, por assim dizer. Não ligo pra Bumba-meu-boi, não gosto de música tradicional brasileira, não respeito os feriados etc. Por isso, enquanto assistia ao filme, ficava imaginando se aquela tradição não teria nascido da mentira e da ignorância, como várias outras. Mas quem sou eu pra julgar uma coisa tão antiga e que é capaz de manter vivo um povo que está praticamente em extinção?

Esse é apenas o segundo filme que eu vejo dos candidatos a melhor atriz no Oscar. E até prefiro Keisha a Naomi Watts, indicada por 21 GRAMAS. Ainda falta estrear na cidade os filmes ALGUÉM TEM QUE CEDER, TERRA DE SONHOS e MONSTER, para que eu possa apreciar a performance de Diane Keaton, Samantha Morton e da favorita Charlize Theron.

P.S.: Lembrei!!! O filme que faz menção a Jonas é MESTRE DOS MARES, naquela seqüência em que um dos jovens da embarcação sente-se culpado pela má sorte do navio.

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