domingo, outubro 16, 2022

MULHER-HULK – DEFENSORA DE HERÓIS (She-Hulk – Attorney at Law)



Talvez a estratégia atual da Marvel seja essa: depois de entregar tantas produções ruins ou meia-bocas, especialmente em suas séries, quando uma delas chega a trazer mais pontos positivos que negativos a gente pode dizer: “até que é legal essa série”. É o caso de MULHER-HULK – DEFENSORA DE HERÓIS (2022), criada e escrita por Jessica Gao e com episódios dirigidos por Kat Coyro e Anu Valia. São nomes pouco conhecidos, mas as produções da Marvel primam por ser muito mais do Kevin Feige do que de seus diretores e diretoras.

Voltando à questão das séries que desanimaram, peguemos apenas as de 2022: a série do Cavaleiro da Lua é tão ruim, que não consegui terminá-la (quem sabe um dia eu volto a ela?); MS. MARVEL é uma série que começou muito legal, mas que infelizmente foi se perdendo; I AM GROOT, eu ainda não vi, mas também não vi ninguém comentando, bem ou mal. E agora a série da Mulher-Hulk, uma personagem que tinha tudo para ser desinteressante, mas que tem um histórico feliz nos quadrinhos, especialmente na época dos roteiros e desenhos de John Byrne.

MULHER-HULK – DEFENSORA DE HERÓIS começa bem interessante, apesar da estranheza provocada pelo CGI ruim (que vai ficando ainda mais tosco ao longo dos episódios). Jennifer Walters conversa com a câmera e conta para a audiência do dia que estava passeando com seu primeiro Bruce Banner (Mark Ruffalo) e sofre um acidente. E é nesse acidente que seu sangue se mistura com o sangue de Banner e ela passa a se transformar numa versão feminina do Hulk. Sempre achei essa origem meio qualquer coisa, mas acho que nos quadrinhos é assim também. O primeiro episódio mostra Bruce tentando entender como o corpo de Jen vai se comportar com esse aditivo gama em seu sangue.

Os episódios seguintes são mais a cara da série, trazendo casos especiais de advocacia, especialmente quando ela é contratada para ser advogada de super-seres. Como não se trata de uma série com cara de filme cortado em pedaços, ela funciona bem na maior parte das vezes, embora falte um humor eficiente para uma série que se pretende cômica. O legal é que, mais do que enfrentar vilões, a série está mais preocupada em lidar com as inseguranças de Jen, que já eram manifestadas antes mesmo do acidente, mas que agora se potencializaram, já que seu alter-ego faz muito sucesso, é aquele mulherão poderoso e cheio de confiança, enquanto a Jen (Tatiana Maslany, a ótima atriz de ORPHAN BLACK) se sente pequena e pouco amada.

Nessa busca por amores, Jen experimenta colocar a She-Hulk nos aplicativos de encontros e acaba tendo um pouco mais de sucesso (seguido depois de desapontamento). A propósito, eu não me importo, claro, mas achei um pouco estranho o espaço de sensualidade (ainda que com comicidade) para as cenas dos encontros da heroína com seus pretendentes. Isso, para uma série do pacote da Disney +. Mas deixemos isso para lá. Afinal, nos quadrinhos essa sensualidade era muito mais trabalhada por seus roteiristas. Principalmente nos anos 1980, quando não se falava sobre os danos da erotização dos corpos de super-heroínas, uma pauta mais recente e que mudou consideravelmente os quadrinhos atuais.

Dando um salto para os episódios finais, depois de alguns episódios bem mornos lá pelo meio, “Ribbit and Ripp It”, o episódio que traz uma participação do Demolidor (Charlie Cox), e o mais bem-avaliado no IMDB, é bem legal. Os dois personagens têm uma ótima química. Mas eu gostei mesmo foi do episódio final, “Whose Show Is This?”, que é o que mais brinca com a quebra da quarta parede, tão presente nos quadrinhos de Byrne.

Além do mais, o episódio já começa com uma divertidíssima homenagem à série clássica do Hulk dos anos 1970 (1977-1982). Emulando as imagens mais esmaecidas e trazendo uma mulher halterofilista pintada de verde, esse sonho de Jen passa a ser o sonho de muitos espectadores. Eu, pelo menos, adoraria ver um episódio todo nessa pegada. A season finale tem um jeitão bagunçado muito divertido, mas também traz questões de autocrítica bacanas, como ver o Kevin Feige transformado numa espécie de robô (K.E.V.I.N.) que comanda todo o universo Marvel através de algoritmos. Esse tipo de coisa pode trazer um pouco mais de conscientização para os próprios consumidores das séries e filmes, e talvez até para os executivos. Não tenho tanta esperança que isso possa acontecer, mas em algum momento, com a fórmula cansada e desgastada, algo novo eventualmente precisará ser feito.

+ DOIS FILMES

MORTE MORTE MORTE (Bodies Bodies Bodies)

O cinema de horror da nova geração tem trabalhado com buscas de renovação de subgêneros. E quem acha que o novo PÂNICO é o mais representativo slasher da nova geração pode pensar duas vezes ao ver MORTE MORTE MORTE (2022), dirigido, roteirizado e protagonizado especialmente por mulheres, e trazendo assuntos das redes sociais para o mundo real, gerando desentendimentos e verdadeiros cancelamentos. Por cancelamentos, leia-se mortes, mesmo. A primeira terça parte do filme nos apresenta a esse grupo de jovens que planeja fazer uma festa privada em uma mansão durante um furacão. A brincadeira sugerida (“bodies, bodies, bodies”) acaba sendo uma antecipação para o que há por vir. Com poucos mas interessantes momentos de tensão, muitas delas vindas de discussões banais (destaque para a cena do podcast), o filme de Halina Reijn ganha peso ao também ter um senso de humor muito próprio para tratar dos assuntos em pauta nos dias atuais.

HALLOWEEN ENDS

O que mais me faz simpatizar com esta (suposta) conclusão da trilogia Halloween de David Gordon Green é que o filme dedica cerca de metade de sua duração à apresentação de um novo personagem, já visto a partir de seu prólogo. Trata-se de um rapaz (Rohan Campbell) que vai cuidar de um menino na noite de Halloween e uma tragédia acontece. Mais adiante, ele se torna o interesse amoroso de Lindsey (Andy Matichak, que tem uma beleza que me fez lembrar a Jennifer Morrison nos tempos de HOUSE). Lindsey é a neta de Laurie (Jamie Lee Curtis). Além do mais, por mais que haja interpretações acima do tom o tempo inteiro (que o diga a mãe do rapaz), em HALLOWEEN ENDS (2022), há um cuidado no desenvolvimento desses personagens mais jovens e em suas relações afetivas, antes do filme virar o tradicional slasher que todos amam - alguém da plateia, no meio da sessão, chegou a gritar "quero meu dinheiro de volta!" . A partir da segunda metade, porém, o sangue é generoso e este novo Halloween parece ser o mais gráfico de todos, embora essa afirmação seja meramente um achismo.

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